A felicidade é um fim impossível que se afoga em si mesma. Perguntam, qual é a maior vontade do ser humano? A resposta já salta desesperada da boca: felicidade! Parece que tem vida própria e se antecipa ao raciocínio. Mas, será mesmo que é ela a maior das vontades? Acredito que a felicidade só se fortalece porque nada mais é que a impossibilidade de se alcançá-la. Quando sabemos que estamos felizes? Quando pagamos todas as contas do mês e transamos mais de 2 vezes no mesmo período? Quando saímos de carro com som alto e chamamos atenção de meninas que saem a pé e são chamadas a atenção para nós em nossos carros com som alto? Ou quando fazemos um almoço para amigos para preencher a solidão do dia-dia tedioso e chato? Ou quando vamos ao estádio ver nossos craques fazerem gols e se acharem importantes por isso?
Pra mim a tal felicidade é uma coisa tão distante que nem me chama a atenção. Não, por favor, não fique pensando que eu sou um cara triste e pessimista, não sempre. Só que não fico me enganando e vivendo a vida buscando uma coisa que talvez nem exista porque nem sabemos classificar sentimentos e sensações. É igual ao amor. Anos e anos poetas, escritores, filósofos enchendo livros de definições eruditas, sensuais e papos furados e nunca souberam definir o que eu sinto pela minha garota, e nunca saberão. Não me satisfaço com a palavra amor, mas minha garota sim, então digo. Não me satisfaço com a palavra felicidade, mas a sociedade sim, então foda-se. Se nem EU consigo calcular o que sinto como aceitaria definir um universo avassalador de sentimentos em uma única palavra de 2 vogais e 2 consoantes como: AMOR? Não me venha falar que ela é repleta de simbolismos porque para mim amor é uma coisa, pra você outra e pro Bin Laden na puta que o pariu outra. Uns matam, uns sofrem, uns cozinham estrogonofe de frango ou outros comem merda por amor. Definições de sentimentos iguais? Claro que não, mas todos dizem amar.
As pessoas se importam demais em amarem e se mostrarem felizes. Parece que é pecado não ser. É deprimente ver aquelas pessoas com sorrisos desesperados nos lábios, falando melosamente pela boca cheia de dentes um "peace and love" já cansativo e desgastado. Parece que todos têm que ser feliz num mundo que nos propicia ao contrário. Entregar-me? Não camarada, não mesmo, isso não é entrega, é ver as coisas de forma realista e sem medo do que você vai pensar de mim. Se sou triste, feliz, idiota, careta, você só vai descobrir se conseguires dominar de forma completa SEUS demónios, porque os MEUS você está incapacitado pra dominar, tanto quanto eu os seus.
Vivam a vida simplesmente. Porque essa lei que inventaram de obrigação de ser feliz e ser alguém na vida é um fantasma que nos aprisiona e nos enche o saco. É muito mais leve viver sem esses compromissos invisíveis e idiotas que alguma cultura inventou e se tornou uma obrigação inda maior que o próprio viver que nos proporciona coisas muito mais importantes e fantásticas. A sociedade te obriga a ser alguém, mas que porra é essa, não sou ninguém? Já sou alguém muito maior do que a sociedade espera de mim mesmo sem um puto no bolso, sem um emprego decente ou sem uma casa que indique minha posição social. Podem me roubar, tirar de mim meus tostões furados, minha moto, meu computador e minhas meias de poliéster esgarçadas que nada muda aqui no peito.
Realmente, podem roubar até a Lua que minha faringe, coração, artéria braquiocefálica, pulmão, mamilos e alguns pêlos continuarão no peito. Não sei porque falamos assim. Parecemos marionetes que espalhamos coisas do tipo: um beijo no seu coração. Imagina só você beijando um coração cheio de plexo de purkinje, tricúspide ou nó sinoatrial. Só pelos nomes você já pensaria 2 vezes.
Foda-se o que a sociedade espera de mim. Se eu morrer, "ela" tão pouco ligaria. Engrossaria um numero frio de estatísticas dependendo de onde fosse o óbito. Seria apenas mais um que deixaria o corpo aqui nesse antro para apodrecer, e voltar assim à natureza pela boca dos vermes. Aí sim, ele realmente estaria feliz com isso.