Não sei precisar quando começou, talvez desde sempre, vivendo fases diferenciadas em minha vida, tampouco precisaria um porquê. Tem de ter? Não sei. Dizem que crises são responsáveis por nosso crescimento, mas comigo é ao contrário.
Há muito tempo me sinto presa, contida e o engraçado é que quanto mais presa me sinto, mais me liberto de certas coisas, como uma negação do que estou vivenciando, tal como uma solução à s avessas. Em certos momentos, uma vontade de ficar parada, calada, sem ninguém, nem nada pra falar, mais parecendo o silêncio antes de uma tempestade, pensamentos - ondas de um mar dentro de mim, sentimentos em ventania, num vai e vem sem fim. Sim, está cinza por dentro, uma revolta surda, raiva por ser como sou/estou: forte para certas coisas e fraca demais para outras. Forte para enfrentar essa tempestade sozinha e fraca para tomar as rédeas e me abrigar. Seria o mais sensato e penso que o que me faz atravessar essas tormentas é o desejo de me punir e, com isso, não me conceder o direito de desejar o "bom", o que outras pessoas escolheriam, pois volto essa inércia, essa revolta para mim e vivo esse clímax que não me levará a nada nem a ninguém.
Estou aqui e assim. Atravesso noites mal dormidas, o tédio, acalentando o sol, a chuva, as estrelas, domando a fera que insiste em sair, enfrentando o mau tempo. Os dias se passam iguais, rotineiros dentro de mim. E vou atravessando os mares bravios, as tempestades, dias cinzas como esse na esperança de um abrigo. Abrigo que terei de cavar com minhas próprias mãos, com meu suor e lágrimas. Fazer desse mau tempo, tirar dele o alicerce para meu abrigo, sentir em suas paredes a memória, a soma de tudo que me construiu, que me forjou a ser essa mulher inquieta, sempre querendo não sei o quê e que me leve a me encarar como merecedora da festa, do palco sem ter de me sentir culpada por tudo o que acontece comigo, com os outros.
Pois é, sou uma mulher em crise...
