Hoje acordei com aquela vontade louca
de comer doce de laranja-da-terra.
E ninguém o fazia como minha avó Laura. Descascava mais de trinta laranjas, com uma paciência de Jó, que impressionaria o mais recluso beneditino deste país.
Quando lhe perguntava porque demorava tanto, dizia: "as coisas gostosas nunca devem ser feitas às pressas... Podem fazer mal"!
Essa avó tinha algo de especial, que eu não conseguia atinar, devido a minha pouca idade.
Certa feita, vó Laura ajoelhou-se no meio do milharal para fazer uma oração; disse que era bom para o milho nascer bonito e saudável.
Saudades...
Com ela aprendi a amar a natureza em sua plenitude, não sei se por "herança ou observància", o fato é que, hoje, sempre que uma plantinha está pálida, passo-lhe a mão no rostinho e faço uma pequenina oração. Não dessas decoradas em catecismo, mas uma reza frágil, bem simples, para alcançar o "deus de todo o verde". E o faço, imaginando vovó Laura, no paraíso, descansando entre suas flores perfumadas.