Que seres somos nós envolvidos por esta estranha membrana chamada sentimento?
Olhamos sim, uns nos olhos dos outros.
Visitas de almas!
Mas quem ou o que somos realmente?
Primeiro nos encontramos com a gente mesmo. Envoltos por líquidos e membranas, conseguimos viver um bom tempo de solidão no útero de nossa mãe.
Mas adultos, não sabemos como suportar esta estranha convivência com o vazio.
Lá, ainda em formação, podemos sentir emoções indefinidas, que mais tarde nos acompanharão como seguranças despreparados.
Seguimos nossas vidas aprendendo muitas coisas, no entanto, adquirimos a visão do mundo conforme as outras pessoas enxergam e seguem seus preceitos.
Só muito tempo depois, é que começamos a perceber como é realmente o mundo, como são realmente as pessoas e como são ásperos os paradigmas que circundam a vida de toda uma sociedade.
Ou seguimos as regras ou estamos fora do jogo!
Se colocamos em prática nossas idéias e pensamentos, não estamos avançando mas sim, batendo de frente com os preconceitos e os falsos moralismos.
Para amar, é preciso que se faça poesia em pura rima. Qualquer frase fora dos padrões coloca o sentimento em dúvida.
Uma entrega verdadeira pode ser vista como exibicionismo e interesse físico.
A maioria não consegue enxergar um palmo diante dos olhos e por isto, o amor e a felicidade sempre vão estar nos mais distantes horizontes.
Mas há os que nem precisam abrir os olhos para ver. Estes, para nossa sorte, já abriram o coração faz tempo.
Nós, que sabemos amar, aconteça o que acontecer, temos a plena convicção de que coisas, lugares e situações nada mais são do que as ferramentas necessárias para adentrarmos nas profundezas dessa mina dotada de um rico filão de felicidade e amor.
Então, agora; nesse instante em que minhas lágrimas tocam a folha de papel, eu descubro que seres somos nós.
Duas almas num encontro sublime, repleto de amor , de entrega, de diferenças e igualdades, e caminhando, cada um do seu jeito, pelo longo caminho do existir.
Apesar de tudo, apesar das membranas, ainda resistem os sonhos, o amor, a paixão e uma felicidade que, senão é completa, tem o poder de unir e de nos fazer se sentir mais gente.
E então, olho no vazio e enxergo o teu rosto.
Fixo meu olhar nos teus olhos e me permito visitar tua alma e te buscar pelos caminhos do tempo só para ter certeza que eu já te conhecida muito antes de você ter aparecido no meu caminho.
Me pergunto agora: que seres somos nós que temos esta linguagem tão própria que só nossos corações conseguem decifrar?