Em uma manhã calorosa de verão, estava caminhando a ermo pela rua. Os passos lentos como é comum a quem não tem compromisso com horas nem pessoas, quando levantei os olhos me deparei com uma pelada em um campo que o chão era batido bem durinho, para um bom brasileiro, uma pelada é como um riacho cheio de peixe e um cara com seus amigos só jogando a linha e pescando a vontade, um chão vermelho, meninos entre cinco a dez anos correndo atrás de uma bola surrada, avermelhada de tanto correr pelo campo sem um fio de grama. Dentre tantas crianças correndo em desespero para tocar naquele ressecado couro duro, uma me chamou a atenção, um menino raquítico e alto numa média de oito anos, ele tinha um jeito estranho de tocar na bola, prendia-a em baixo do pé e olhava quem estava desmarcado para dá o passe em seguida se posicionava na frente para receber, sempre com o pé direito, porém na hora da finalização chutava sempre com o pé esquerdo, esse fato me fez passar um quarto de horas ali parado observando os dribles do menino e em seguida seus chutes de canhota certeiro em direção ao gol.
Quando a partida chegou ao fim, não por apito do juiz, mas por cansaço da garotada o menino veio caminhando em minha direção como se estivesse acabo de fazer um grande trabalho, camisa no ombro, todo suado, respirando forte e conversando com um colega. Ao aproximar-se de mim comecei a ouvir suas palavras -você viu que chute que eu dei, a sorte é que o goleiro deles é bom e eu chutei em cima dele, e outro dizia - é verdade Cacá, você quase que fazia mais um gol nele.
Eu ali parado, fingindo que não tava ouvindo a conversa e ao mesmo tempo me remetendo ao passado onde no meu tempo de peladeiro tinha um menino que se chamava exatamente o mesmo nome do menino que me chamou a atenção naquele jogo, Cacá, acredito que o nome dele era Cabral, mas o pessoal só o chamava Cáca e esse menino foi igualzinho ao que acabei de ver jogando. Era magrinho, só um pouco mais bonito, mas jogava bola como ninguém, e esse menino foi crescendo e foi treinando em escolinhas, depois começou a pegar banco no meio dos grandes e quando teve uma chance foi jogar no São Paulo e daí para frente todo mundo conhece a história de Cacá, que já chegou até a jogar na seleção brasileira.
Certamente o futuro deste outro Cacá não será diferente, vai para escola e depois vai jogar bola, dar tempo ao tempo e quando crescer certamente será destaque entre os jogadores do seu tempo.
Amanhã está quente, a pelada já terminou, vou seguir o meu caminho sem destino e sem pressa.
Dedico esta breve crónica a um grande jogador de futebol, Cabral, e ao seu fã numero um, seu pai.