Francamente eu nem sabia que vez em quando irradiava esse estado de espírito para que pensem que sei a resposta a essa pergunta...
Perguntaram o que é uma pessoa feliz. Respondi a pergunta com outra. Perguntei se queriam que eu descrevesse um louco ou um sábio feliz. Como acharam graça da minha pergunta, eu expliquei que os loucos têm muito mais chances de serem felizes que os sábios. Porque a maioria que não sabe avaliar se é ou se não, goza por assim dizer, dos benefícios dessa inconsciência... E mesmo os que abraçam as loucuras da embriagues, das drogas ou do fanatismo religioso ou político, são como que anestesiados pela inconsistência momentànea ou não da vida.
Como percebi que concordavam com meu argumento, acrescentei que já vi um pobre homem embriagado muito feliz a cantar diante de ricos e sóbrios que responderiam sim, se perguntados se queriam também ser felizes. Mas com certeza renegariam a possibilidade de ficar do jeito daquele outro, para assim se sentirem, ainda que no paraíso.
Bem, deixemos os enlouquecidos e falemos do sábio feliz. É isso que nos interessa, porque não há quem não se julgue pelo menos um pouco sábio... Mas desculpem. Tenho que ser sincero, e afirmar aqui que acredito que para que uma pessoa seja feliz, é necessário ter pelo menos um pouco de loucura encerrada em si... E mesmo os sábios. E mais ainda que o termómetro dessa felicidade é justamente o grau de loucura que porventura tenha.
Descrever um louco feliz é fácil. Mas como todos querem que eu descreva um sábio feliz confesso que achei mais complicado falar... Mas tento:
Um sábio feliz é aquele de quem posso fazer uma comparação com um equilibrista... Ele será cada vez melhor quanto mais domine o equilíbrio entre os seus possíveis conflitos. E não oscilará na gangorra bipolar do humor, estando ora de um ora de outro lado formando assim um gráfico que oscile entre o céu e o inferno da felicidade. Mas se manterá num nível estável onde poderá sentir a alegria e a tristeza ao mesmo tempo, unindo estas duas, como se fosse um mediador que anda de mãos dadas entre uma e outra.
Um sábio feliz não ficará se lamentando se tenha cometido erros, por mais que os tenha. (Há um engano no pensamento de que os sábios não erram, mas os loucos é que sim). Ele (o sábio), no entanto se voltará no percurso sempre que os puder reparar, e/ou seguirá em frente ignorando os outros que não. Mas jamais esquecerá erros de uma forma irresponsável, mas seguirá o caminho elevado que com eles aprendeu.
A pessoa sábia só pode ser feliz se consegue seguir seu caminho com serenidade, porque sabe que está sujeita a todos os problemas que os outros também estão, mas não se desespera na possibilidade de não ter como resolvê-los. Pelo contrário, elevará sua cabeça acima deles e tentará olhar um pouco adiante e acima, vendo onde a maioria (dos não sábios) não pode ver. E mesmo estando nos mesmos lugares e passando pelas mesmas circunstàncias que outros, age e reage de forma diferenciada dentro de si e não fora, ainda que seus próprios conflitos tentem abalar suas estruturas...
Sabe que a sua felicidade não tem nada com os nomes dos argumentos ouvidos: dinheiro, amores, férias, religião, por exemplo... (Porque já viu quantos e tantos infelizes nesses supostos paraísos). Mas deliberadamente esquece que esses são motivos das maiores infelicidades declaradas ou não, e prefere estar no seu canto cada vez que um infeliz deseja mais e mais dessas coisas e depois vem se lamentar de que elas o atormentam...
O sábio feliz é como quem guarda um segredo inexplicável...
Os outros felizes de momentos pensam que sabem, mas são loucos...