Procurava um tema alucinadamente, pois queria ser um clássico da literatura. Queria escrever palavras difíceis, raras, fugindo da vulgaridade das coisas mundanas, dos chavões que todo mundo vê escuta nas novelas. Queria ser um indivíduo de quem se dissesse que tinha cultura, embora poucos tivessem o privilégio de ententer as suas colocações, os seus ensaios, as suas monografias.
Queria, porque queria, disputar uma vaga na academia, ter suas obras traduzidas para outros idiomas, ser convidado para palestras, worshops, vídeo conferências,ter sua foto na capa das revistas mais vendidas, ter uma audiência com o papa, escrever na Usina de Letras, ser levado a sério nos seus trabalhos.
Queria, enfim, ser gente de letras, escritor, ser chamado de mestre, de professor, mesmo que não ensine coisa alguma.
E se olhava no espelho demoradamente, sonhando de olhos abertos, ouvindo ovações como se estivesse numa arena gigantesca, fazendo mesuras para a platéia delirante. E só de sonhar ficava alegre, recebia o seu galardão, entufava o peito de orgulho, entrava em êxtase profundo, esquecia a sua vidinha de propagandista de supermercado, oferenco as promoções relàmpago: atenção! o gerente enloqueceu, estamos vendendo pneus Pirelli, na frente da loja, por apenas 129 reais. É muito barato! Paroveitem, chamem seus amigos e parentes, a oferta é por quinze minutos apenas.
E a sua voz, recebendo o mel dos sonhos, ficava mais aveludada: era voz de uma celebridade.
E voltava para casa satisfeito, sem reclamar do cómodo apertado que lhe servia de casa, um cubículo de ar rarefeito, que os seus olhos tocados pela luz dos sonhos, transformavam ewm mansão na zona mais valorizada da cidade.