Um ónibus, um caminhão, um trem, um automóvel...O menino anunciava os veículos que passavam à sua frente, os olhinhos expressivos acompanhando o movimento da rodovia e o lento desfilar dos comboios na ferrovia que se cruzavam quase à sua porta. Ria, contava, gesticulava.
E o calendário desfolhava rapidamente.
Um ónibus, um caminhão, um trem, um automóvel...
E a vida passando com incrível rapidez: um ónibus repleto de passageiros seguindo para algum lugar, carregando sonhos, fantasias, ilusões, mas também realidades.
Um caminhão carregado de coisas boas e ruins, tristezas e alegrias, risos e prantops, porque assim é a vida: luz e sombra, noite e dia, maré alta e maré baixa, equilíbrio e desequilíbrio.
Um trem disparando para o túnel da surpresa, pois ninguém sabe o que existe do outro lado...um automóvel de luxo, representando a vontade enorme de vencer, de ter conforto, prosperidade, vida mansa, tranqulidade.
O menino já não existe mais. Em seu lugar um adulto movido a perplexidades, emoções inusitadas, impressões retidas na memória, recordações:
um ónibus, um caminhão, um trem, um automóvel...os olhos cansados já não se deixam impregnar pelas surpresas, já estão cansados de ver a dura realidade, já pedem clemência à vida, aos duros impactos da vida.