Quer saber de uma coisa? Tudo pode ser bom, ruim e principalmente, assim assim... tudo ao mesmo tempo ou não, e não necessariamente nessa ordem...
Bom é chegar na praia à tardinha, anúncio de pór-do-sol, água de ondas mansinhas, jogar bola na espuma e, sob o céu, encaixar como se fora Taffarel. É bom também quando começa a chover, e as gotas fazem cócegas na superfície do mar, como se um cardume infinito prometesse matar a fome de todo Vidigal, Rocinha, Cidade de Deus e Vigário Geral.
Ruim é lembrar daquele amigo, que, prancha na mão, morreu com o beijo roubado de um raio. Da lembrança à correria, o medo, o medo. Medo é bom. Ruim é o medo de ter medo.
Bom é voltar, trocar a chuva por chopp, passar atrás da pelada, e a bola vai pra fora e como na crónica de Rubem Braga, sobra pra você, que mata no peito, faz ¨embaixadinha¨ e devolve redonda, num chute perfeito...
Ruim é a fisgada na coxa, sair mancando disfarçadamente: a vergonha de estar decadente não é ruim; ruim é o orgulho que se nega a reconhecer a decadência.
É bom a cidade estranha, onde você nunca esteve e sabe que nunca mais vai voltar, e neste lugar você tem uma obrigação sem graça, que cumpre com estilo e precisão, traçando um dia perfeito no arco do tempo. Quando cai a noite, é bom tomar um banho e, sob o chuveiro, é bom sentir saudade. Ruim é não ter saudade. E como é bom sair sem direção pelas ruas da cidade... pensando no que você fez da sua vida e no que a vida fez em você .
É bom sonhar. Realizar não é tão bom, mas ruim mesmo é não realizar.
O fim de um grande amor é muito, muito ruim. Um grande amor não tem fim...
Bom é amar. Ruim é amar. Bom é encarar a vida com fantasia. Quando um poeta desaparece, é bom botar chapéu de Bogart que tudo pode solucionar. Ruim é encontrar o precipício.
Morrer não deve ser tão ruim assim.
E pode ser bom falar sobre bom e ruim. Como pode ser pior, assim assim... bom...
Texto de Pedro Bial, extraído do livro "Crónicas de um Repórter"