Eu quero andar de pés no chão, percorrer os caminhos da minha infància...
Mas, não me quero assim maduro, adulto cheio de cacoetes, preocupado com as contas do final do mês, vendo meu país degrigolando ladeira abaixo numa crise moral sem precedentes, deixando enevoado o porvir dos nossos filhos...Quero-me puro, ingênuo, acrediatando em Papai Noel,maravilhado com caleidoscópios, lendo Gibi, vendo filmes de Durango Kid, conversando com os amigos na velha Avenida do Imperador, soltatando papagaio nas manhãs de julho, apanhando búzios e conchinhas na praia, ouvindo rádio, as notícias do Reporter Esso, ver os vultos amigos que já se foram na voragem do tempo que não perdoa e que não volta nunca, a não ser nos momentos saudosos da nossa memória...
Eu quero as aulas de catecismo de D. Primá, as aulas preparatórias para o exame de admissão, as retretas, as quermesses, as prendas, a casa de minha avó, os temores todos esvanecidos com uma simples palmada de minha mãe, os assobios de meu pai nos fins de tarde, anunciando que estava voltando para casa, os oitizeiros, as bolas de pano, a roupa cheirosa secando no varal, o quintal imenso da casa de minha avó, a inocência daqueles dias romàticos, a saudade que chega, pisa firme no coração da gente, sem maltratar, apenas encalcando as mãos suaves, como se estivesse dizendo nu murmúrio: filho, eu estou aqui para fazer você lembrar de tudo isso, sem perder de vista o fio da meada de sua vida, para você nunca sair do rumo e não se afastar demasiadamente das suas origens...