Nem saí pra beber hoje. Fiquei em casa, fumando meu cigarro, coçando a barriga, desamparado, solitário e profundo, idiota, cabisbaixo, como sempre meio brega, quase meio punk, além daqui, mas não ali, além. Minha cabeça parece uma fornalha que nunca pára, gira, penso em tudo em 1 segundo, e acreditem, nesse mesmo segundo me esqueço de tudo. Assim vou seguindo, vez acreditando nisso, naquilo, mas na maioria do tempo simplesmente não consigo acreditar, e nesses momentos, ah, que dor me toma conta. Não quero ser o mais bonito, nem o mais legal, simpático, arquétipo boçal de quem se importa tanto. Quero além disso, quero uma inteligência ímpar, um saber em demasia, rica sabedoria, coisa intocada, inviolável, apenas passada pelas palavras que me foram dadas.
> Enquanto tudo desaba sigo firme, de pé, só o vento vez me desarma, enquanto tudo aos meus olhos vira pó. A imagem do ser humano pra mim se desintegra, devido as pseudo-verdades que saem das bocas babosas dos mesmos, transfigurando carne em pedaço de nada material. Minha perna vacila quando sentado em meu sofá confortável vejo pela TV o mundo se dizimar em guerras religiosas, por grana, por poder ou por mentiras vertiginosa. Ah, o que fazer? Mudar de canal e se enganar com novela, fofoca ou futebol? Puta que o pariu, onde vamos parar? E se parar, tomara que seja num bar, com música do Sergio Reis, torresmo oleoso com pêlo, copo com impressão digital, mesa e cadeira de ferro, garçom mal humorado, cerveja quente e 51, um ponto de ónibus em frente, playboys e seus carros idiotas com som alto, e fofoca na mesa. Isso, de fato, é muito mais real que tudo isso a minha volta.
> Não adianta me olharem esses seus olhos de clemência, não tenho dó de você, ainda mais enclausurado dentro dessa roupa de etiqueta só pra impressionar quem de fora vê.
> Porque não me importo tanto com as coisas que se importam tanto os outros? Prefiro morrer jovem mas fazer que morrer velho e esperar. Mas, meu Deus inexistente, o que quero fazer? Sou pura confusão, mas vivo intensamente de paixão pela mudança, pelo novo. Reinvento-me pra depois perceber que é tudo igual dentro. Auto análise imbecil mas necessária. Mudo tanto, mas as paredes me olham seus olhares de clemência, pensando que sou louco, talvez um pouco, talvez somente mais um careta no mundo. Ah que medo me ataca ser só mais um na massa, ser esquecido por fazer absolutamente nada, por passar e não mudar meu entorno, feito esses burros autodidatas da ignorància que surfam na imbecilidade, e essa que tenta de todas maneiras nos agarrar a força, mostrando suas facilidades tentadoras e baratas.
> Beije-me sempre força propulsora que minhas forças estão acabando. Luto sozinho contra o invisível, e raramente ganho. As vezes me dá vontade de largar tudo pra trás, sair andando por aí, sem rumo, apenas um caminhar até cansar, sem pra trás olhar, de mãos dadas com a sorte, pisando confiante em solo firme, sem as paranóias da sociedade maluca, que me obriga a ser alguém que não consigo ser, me respeitando pela minha inútil conta bancária, carro da moda, sorriso fabricado e portão eletrónico em casa que só recebe carta nas vésperas do Natal. Minha verborragia transcende a palavra, ataca meus atos, sentado aqui minha perna quica ansiosa, pronta pra chutar essa sociedade putrefata. Não tá fácil, nem nunca foi, mas nesses tempos de mudança a cabeça desanda, e o corpo fica fraco. Resta-me a cabeça, sempre sensata, inteligente, aguçada e cínica, articulando uma saída sempre quando meu coração desiste. Preciso de ajuda, porque tudo começa a escurecer de novo e não quero como antes permanecer muito tempo nessa porra com porta fechada, trancada, lacrada, sem Deus, só eu e nada.
> Apaixono-me pela vida todo dia, hoje me esqueci disso. To seco, duro, puto com tudo. Amanhã será outro dia, e o sol insistirá em bater na minha cara e jogar pra dentro de meus olhos a imbecilidade atrofiada desses espectros que circulam por aí com cara lavada, roupa de marca, inutilidade insensata e risadas falsas. Amanhã preciso estar forte de novo, porque ao acordar a guerra recomeçará e minha indignação se tornará como sempre meu fardo de esperança.
> Vivam suas vidas meus caros, porque amanhã estarei armado até os dentes pra enfrentar sozinho como sempre o mundo e sua falta de verdade.
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> T.S.H.