Uma broa de milho. O menino, na estação, comia com descuidado enlevo uma aparentemente apetitosa broa de milho. Era uma broa dourada, fofa, alta, cheirosa, diferente de todas as outras broas de milho que vira em sua vida. Um menino sem broa, da janela do trem, olhando para o menino da broa que, sem saber que estava sendo observado, entregava-se ao prazer de comer lentamente aquela broa.
O trem apitou. O menino da broa nem olhou para o quadro da janela de onde o menino sem broa, os olhos presos na iguaria, lançava olhares pedintes e inúteis.
Aí o trem se pós em movimento, aos sacolejos, resfolegando: café-com-pão-bolacha-não-café-com-pão-bolacha-não.
E a broa ficou presa na memória do menino sem broa , enquanto o menino da broa terminava o seu ritual de encarar a broa de milho naquela tarde modorrento da estaçãozinha do interior.
Anos depois, adolescente, dinheiro no bolso, o menino sem broa voltou à quela estação, em vão procurou a broa de milho e aquela boca que a devorara com tanto prazer, incutindo nele uma inveja gastronómica sem tamanho.
Num canto, num tabuleiro, uma mulher vendia broas. Comprou duas. Mas, não tinham o mesmo encanto. Voltou ao trem, deu uma mordida alentada. Sentiu o gosto da broa...Era gostosa, sim.Mas não era a mesma coisa.