Ela estava sentada na cama do seu quarto, quieta. Já tinha despejado todas as palavras que tinha pensado em dizer. Olhava para o chão, derrotada. Ele estava próximo à janela, encostado no umbral, olhando para fora. Sentia medo, raiva, desespero. Tudo junto.
Ambos não tinham mais nada a dizer um para o outro. As ultimas palavras foram tão explosivas que concluíram o abismo que estava entre eles. O silêncio era mortal, ambos estavam morrendo por dentro. Sabiam disso, mas nada mais podiam fazer a respeito.
"Vá embora." Disse ela com voz cansada. "Melhor mesmo." Respondeu ele, respirando profundamente.
Ela não chorava. Não tinha mais lágrimas para aquele dia. Ele chorava por dentro, procurando explicações para o que não entendia. Virou-se pegou uma bolsa de viagem, jogou umas roupas dentro, fechou e saiu pela porta sem dizer palavra. Olhou para trás, fitou a mulher com quem se casara, jurando num altar amar até que a morte os separasse. Sentiu-se confuso, tinha medo de ir, mas já não podia ficar. Pelo que tudo indicava, não tinha mais lugar para ele naquele lar, se é que ainda se pode chamar de lar...
Ela não olhou ele partir. Continuava imóvel, com a mesma expressão no rosto, respirava pesarosamente, estava confusa. Não queria ter dito para ele ir embora, mas disse. Não queria que seu marido com quem se casara, jurando num altar amar até que a morte os separasse, fosse embora assim daquele jeito, vivo.
Para ambos estava evidente a sensação de falência. A sociedade acabara com o abandono de causa. Mas porquê? Porquê a causa magna fora assim abandonada. O que foi que deu errado?
Ao sair da casa ele bateu a porta. A batida soou como badalar dos sinos das antigas igrejas anunciando morte. Uma lágrima rolou pelo rosto dele. Ao entrar no carro, secou a lágrima, arrumou o retrovisor, olhou em seus próprios olhos, vermelhos de amargor, respirou profundamente esperando que isso ajudasse a acalmar seu espírito perturbado, deu um tempo pra si mesmo, e foi-se embora guiando seu carro.
Ao ouvir o barulho do carro indo embora, ele indo embora, começou a chorar copiosamente. Deixou-se escorregar caindo de joelhos aos pés da cama. Olhou para ela, vazia. Estava posta a colcha de renda branca que tinham comprado na viagem de lua de mel. Mas seu espírito amargava o fel da separação. Um pensamento não lhe saia da mente, "Até que a morte os separe" - disse o sacerdote. Ela olhava para a cama, onde tantas vezes se amaram e que agora estava vazia, fria, morta. Sua alma mais se entristeceu, continuava a chorar, em desespero, em dor, angústia. Ela ficou lá, a noite inteira, velando o amor que morreu e os separou.