A saudade dói, machuca, sufoca, enche o saco, torra a paciência, cutuca embaixo da unha com alfinete, é como de manhã, tipo não ter cigarro. Mas algo se perdeu, se desconectou, o encanto se sentou numa cadeira de praia no fundo do quintal confortável da miséria da desistência e ali, com um suquinho de maracujá gelado, óculos escuros, sunga ridícula e guarda sol listrado e colorido curte o desemprego, a falta de alimento, e assim, é sempre e somente melhor pra ele. Faltou alimento, isso sim faltou. E agora me isolo, desisto, me entrego e assisto sentado o desmoronamento de tudo que era lindo, que era mágico, pelo simples fato de você não querer ser feliz; e eu poderia ter-te feito feliz. Minha sensação é de incompetência. Sinto-me fraco, e não quero mais papo, não quero mais nada, agora tentarei me levantar da queda desnecessária, enquanto você se perde dentro de você mesma e me esquece, sozinho perdido dentro de mim mesmo.
Tudo está desmoronando na minha frente, e não posso fazer nada sozinho a não ser olhar e aplaudir o tamanho de nossa mediocridade. Serei humano, e forçosamente terei de utilizar toda minha capacidade mental pra compreender tamanho desperdiço. Mas o encanto, ah o encanto nunca poderia ter-se perdido. Tiraram a força um pedaço enorme de mim mesmo, a força! Enfiaram uma mão com anel que desmonta e arrancaram algo essencial pra simplesmente se existir de dentro de meu peito aberto e dilacerado. To vazio, to oco, to puto, to bem...
Pergunto-te, menina, agora você está sob controle? É isso que eles querem, querem-te sob controle, calada e vazia, sozinha e calma, supostamente feliz. Eu sempre estou, estive e estarei fora do controle quando se trata de amor, de se jogar por ele. Sempre tive medo do amor, medo de me perder, de enlouquecer, mas depois de tudo isso vivido, percebi que isso é a melhor coisa do mundo. Enlouquecer de amor, melhor que enlouquecer por outros motivos. Mostrastes-me o céu e o inferno, mas agora não estou mais em nenhum dos dois, estou em algum lugar mais calmo, sereno, tão idiota que desacredito. Logo quero me jogar de novo, como se tudo nessa vida fosse uma eterna brincadeira. Pergunto-te novamente, menina, e tudo nessa vida não passa de uma divertida brincadeira? Pena que preferes brincar sozinha.
Não estou mais sofrendo como antes. Depois do silêncio venho gradativamente me recuperando. Hoje com a cabeça erguida sei de minha luta. Como Che posso morrer de olho aberto e injustamente, porque tudo que fiz, como ele fez, valeu a pena. Ele tentando salvar milhares de pessoas, eu tentando salvar á nós dois. Perdi a ultima batalha, como ele, mas baixar a cabeça será uma coisa que nunca me verás fazer e nem saberá disso por aí. Como ele!
Algumas pessoas vivem uma vida cega, parece que não podendo enxergar um palmo na frente do nariz. Se um dia me enxergares de verdade saberás quem fui, sou, serei, e era tudo, tudinho pra te fazer feliz. Mas agora meu foco mudou, quero me fazer feliz, porque é bem mais fácil pelo simples fato de você não querer que eu faça-te feliz. Aí a luta fica injusta. Amei-te, amei-te tanto que até doeu. Mas doeu mais ver que perdi uma luta travada contra você, que preferiu a solidão de uma felicidade aparente, que a batalha travada diariamente contra obstáculos tão inócuos perto do tamanho do meu amor incondicional.
E agora o silêncio se torna necessário por simplesmente não ter mais nada a se dizer.