Um sábio pode passar esporadicamente por idiota, mas um idiota que tenta passar por sábio, mesmo que esporadicamente, fica inda mais idiota. Não adianta ficar bancando o espertalhão, porque se não fores de verdade a máscara cairá e com ela, ruirá também sua dignidade. Sejamos nós mesmos, como somos, estúpidos ou sábios. No fundo, é tudo uma questão de auto-avaliação em relação aos próprios pontos de vistas para com as coisas da vida, do dia-dia. Mas por favor, não banque o intelectual num bar de quinta categoria bebendo vermute com seus óculos de grau, vomitando sobre nosso mísero intelecto fora de moda palavras insossas e decoradas de um Aurélio qualquer. Sei que somos presas fáceis, e bancar o inteligente hoje em dia é mais fácil que fritar ovo naquelas frigideiras pequenas feitas especificamente para se fritar ovos. Dá até pra incrementar com queijo, batata, e fazer uma verdadeira tortilla espanhola de fácil degustação. Moleza!
O que não aguento são aquelas pessoas que sentam no bar com perna cruzada e pezinho enfiado num All Star surrado balançando, cigarro maroto pendendo no canto da boca, ar blasé, bebericando Long John com pose de Bala 12, liberando de sua boca amarga pseudos prontos de vista sobre arte, cinema e teatro, com pose de Al Capone, gestual de mestre yoga, olhar vazio e de lado como um estrábico insensato, e quando questionado, flecha profundamente seu olho idiota no horizonte buscando na mofada biblioteca mental uma resposta que nos diminua e nos imbecilize. E por dentro ele gargalha a risada mesquinha de quem sabe nada mais que absolutamente nada, mas que ainda não descobriu isso. Ah não, pelo amor de Deus, afastem esses seres de perto de mim...
É impressionante como atraio "louco". Quase todas as vezes que estou no bar me aparece um mendigo, um cachaceiro, um boêmio, um ladrão, um assassino, um profeta, um traficante, alguém que vive ás margens do certo e do errado imposto pela sociedade e puxa conversa, diz algo, joga uma piada, oferece produtos, pede alguma coisa. Mas porque SEMPRE pra mim, somente pra mim? A mesa lotada de pessoas supostamente iguais a mim aos olhos de desconhecidos, e nada, sempre vêem na minha direção. Fico extremamente feliz com isso, porque se fosse o contrário, se em minha direção viessem somente advogados, filhos de prefeito, médicos, patricinhas cheirosas e insossas, pessoas que almoçam na hora do almoço e transam na hora combinada de transar me deixaria puto a ponto de me isolar debaixo da cama neurótico e paranóico com medo e desconfiado. Identifico-me com essas pessoas, e isso deve saltar aos olhos. Vira e mexe sento num banco de praça com mendigos pra conversar e acima de tudo aprender com eles a sabedoria popular, coisa que nem livro nem Universidade ensinam. E devo nunca olhá-los com desdém, menosprezo, é, devo ser um cara legal com eles, tratando-os como ser humano, não pelo seu posicionamento social indiferente. E fora que a maioria dos mendigos gostam de Raul Seixas. E quantas vezes cantei Raul abraçado a um, dois, três desdentados pelas madrugadas destiladas nessa cidade insensata e de pedra? Quantas? Olhe uma pessoa dessas nos olhos e verás que são inofensivas e que só almejam compreensão, e um pouquinho da atenção valiosa dos que comandam.
Muitos são vagabundos, mas me identifico muito bem com vagabundos também.