Queria, hoje, estar bem e inspirada para escrever. Sinto necessidade de lidar com as letras, de criar, de expor pensamentos, de extravasar sentimentos. E não sei se essa necessidade, apesar da falta de inspiração, acontece com todos que gostam de escrever, mas comigo é comum, talvez por não ser uma escritora mas, apenas, um ser que se alimenta das palavras.
O fato é que hoje, um dia em que há inúmeros temas para serem abordados e que, nas primeiras horas da manhã constituíam a minha dúvida sobre qual deles escrever, acrescido, ainda, do aniversário da eleição de Sua Santidade o Papa Bento XVI, vejo que a noite chegará sem que eu consiga inspiração para qualquer texto.
O dia dezenove de abril é, para mim e para muitos, uma data inesquecível, porque é uma data de muitas comemorações.
É o Dia do índio, Dia Pan-Americano do índio, Dia Estadual da Juventude, Dia do Exército do Brasil, Dia de São Leão IX, Dia de Santo Expedito.
É, também, o dia do aniversário de nascimento de Manuel Bandeira, Lygia Fagundes Telles, Getúlio Vargas e de Roberto Carlos.
Agora, também, Dia da eleição do Papa Bento XVI.
Não tenho dúvida de que qualquer uma dessas datas históricas ou comemorativas no dia de hoje abre um imenso leque para que muita coisa seja dita sobre cada uma delas.
Quanto há por se falar sobre os nossos irmãos indígenas? Creio que poderíamos escrever livros sobre a juventude. Embora eu seja leiga, tenho certeza que também há muito para se falar sobre o Exército do Brasil. E o que falar sobre esses santos que tanto têm levado fiéis a aumentarem sua fé, a se sentirem protegidos e auxiliados por esses ídolos que têm sido um grande elo, grandes mensageiros, entre cristãos e o Criador?
Escrever sobre Manuel Bandeira, nascido há 120 anos... Quem sou eu para falar de um escritor de tamanho porte? O homem que definiu a saudade como "um bem maior que a felicidade, porque a saudade é a felicidade que ficou".
E o que falar sobre a Imortal Lygia Fagundes Telles, essa personalidade literária, quarta ocupante da Cadeira nº 16 da Academia Brasileira de Letras, que tanto honra essa posição tão merecida?
Para discorrer sobre Getúlio Vargas, tampouco me sinto em condições, porque ele é um dos maiores retratos da História do Brasil, na minha opinião, e eu não saberia falar um décimo de tudo que ele representou para o nosso país.
Mas, sobre Roberto Carlos creio que eu consiga dizer alguma coisa. Não é preciso muito, porque as pessoas que pertencem à minha geração saberão sempre dizer tanto ou mais do que eu, e as gerações posteriores acabaram por saber também, porque foi impossível, a quem viveu a Jovem Guarda, não transmitir aos filhos e aos netos o valor dos anos dourados, da década de setenta, do Rei Roberto Carlos assim aclamado por toda uma geração e que, até hoje, super lota todas as casas de espetáculos onde se apresenta, todos os campos de futebol, todas as marinas e, recentemente, até um navio.
Falar de Roberto Carlos é reviver a minha vida inteira. Falar da Jovem Guarda é me ver todas as tardes de domingo plantada na sala, cantando junto com aquela juventude alegre que saía do anonimato, lotando o auditório da TV Record em São Paulo, lançando moda para roupas, cabelos, acessórios, modo de falar, de apresentar, de agradecer, de conviver com o sucesso, com amigos, com fãs, com a humildade, com a linguagem dos jovens, com paixão, com sonhos.
Falar de Jovem Guarda é falar, em primeiro lugar, de Roberto Carlos, que completa 65 anos de idade com o mesmo olhar, o mesmo romantismo, a mesma inspiração, a mesma elegància, o mesmo sorriso, o mesmo carisma daquela época. O homem feito, experiente, realizado, reconhecido, sofrido, que não perdeu o menino que existe dentro de si, que jamais deixou de demonstrar o amor por Lady Laura e pela pequena Cachoeiro do Itapemirim.
Com o Roberto, aprendi a dar um valor imenso a um calhambeque, aprendi a dizer que não quero ver você tão triste assim, aprendi a parar e olhar, a admirar as curvas da estrada de Santos. Descobri que sou terrível, que posso, sem medo, pedir ao meu amor que me escreva uma carta por favor e o quanto é importante perguntar como vai você. Aprendi a dizer como é grande o meu amor por você, senti a importància de amanhã de manhã pedir um café pra nós dois, passei a observar todos os detalhes tão pequenos de nós dois. Senti como é importante que você saiba que eu tenho tanto pra lhe falar mas com palavras não sei dizer, senti o prazer de gritar com a alma, a Jesus Cristo, que eu estou aqui, aprendi a pedir para Nossa Senhora me dar sua mão e cuidar do meu coração, da minha vida e do meu destino. Passei a ver com outros olhos as flores do jardim da nossa casa, perdi o medo de dizer eu te amo, te amo, te amo, estou apaixonada por você, eu amo demais. Aprendi a dizer obrigada Senhor pela esperança, obrigada Senhor pelo perdão.
Não há música cantada por ele que não me remeta a alguma fase da minha vida, a algum acontecimento importante ou a alguém que faça parte de mim.
Ao falar de Roberto Carlos eu me vejo na juventude, feliz da vida, quando conseguia fazer milagre com o meu salário tão comprometido para ir ao cinema assistir a todos os filmes dele ou a um show em que ele estaria presente e foram pouquíssimas as vezes que tive possibilidade de ir a shows, mas, o valor que elas têm é inestimável.
E me vejo recentemente, numa das mais famosas casas de show do Rio de Janeiro, onde ele apresentou um espetáculo inesquecível aos advogados que participavam de sua Conferência Nacional realizada naquela maravilhosa cidade. E lá estava eu, sentindo-me garota novamente, cantando e gritando com os colegas que lotavam a Casa e se sentiam tão jovens quanto eu. E lá estava eu, pulando e alcançando um botão de rosa dos muitos que foram atirados por ele à quela platéia ímpar. Nem preciso dizer que as pétalas dessa rosa estão secas e guardadas com todo o carinho do mundo, como símbolo de um dos muitos momentos mais felizes que vivi.
É, Roberto Carlos é isso tudo para mim. É a menina que ainda existe dentro de mim, é a romàntica que acompanha cada minuto da minha vida, é a sonhadora que apanha, apanha, mas não deixa de sonhar, é a alegria e as lágrimas das canções que você fez pra mim, é o extravasamento de tantas emoções que eu vivi.
Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer....