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Cronicas-->A velhinha do Ponto de Ónibus -- 10/05/2006 - 13:06 (Nezinho Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Aproximava-se da 1 hora da manhã.
Eu havia ficado na sede da UNAMMOC, nas Três Pilastras, até mais tarde, agilizando alguns documentos.
Como o último ónibus coletivo, que faz a linha São Geraldo/Fábrica de Cimento, normalmente passa pelas Três Pilastras à uma hora da manhã, eu tinha a garantia de que teria transporte.
Após a meia-noite, em dias de semana, o Major Prates é tranquilo. Pouco movimento e clima agradável.
Normalmente eu embarco nesse ónibus nesse bairro, no cruzamento das avenidas Francisco Gaetani e Castelar Prates. Ali pode-se servir de várias linhas de ónibus.
Bem, já era quase uma hora da manhã, como eu dizia, e eu me dirigia para o citado ponto de ónibus.
De longe vislumbrava-se, sob a claridade das làmpadas de iluminação pública, algumas pessoas na rua. Pareciam estar esperando algum ónibus intermunicipal, haja vista o volume de bagagens que tinham próximas a elas.
Mas tinha uma outra pessoa, de pé no ponto de ónibus coletivo, que despertou-me a atenção.
Era uma senhora, de porte aristocrático e fisionomia distinta, aparentando ter já uns 70 anos aproximadamente.
Sozinha, de pé, em um ponto de ónibus coletivo, depois da meia-noite.
Aproximei-me, intrigado, daquela senhora, buscando em meu íntimo uma explicação para sua presença ali.
Nada de plausível me ocorreu.
Aproximei-me e a cumprimentei-a com um "Bom dia", já que era madrugada, ao que ela respondeu-me educadamente, mas sem desviar a vista do infinito.
Como eu estava em dúvida quanto ao horário do último ónibus, perguntei-lhe se este já havia passado. A sua resposta deixou-me inquieto e preocupado. Ela disse:
- Nesse horário, quinze para seis, costumam passar dois ónibus, um do São Geraldo e um do Morada do Parque. Já estou aqui há alguns minutos e nenhum deles passou ainda.
Ela falou isso olhando para um minúsculo relógio que trazia no pulso esquerdo. Aturdido me afastei até a esquina das duas avenidas, com aquele horário, quinze para seis, martelando minha mente.
Eu carregava uma pesada mochila, às costas, cheia de disquetes de computador e a mera possibilidade de ter que andar do Major Prates até o Alto São João me desanimava.
Mas tal preocupação foi substituída pela inquietação provocada pela resposta daquela digna senhora.
Fiquei ali, parado na esquina, sentindo o peso da mochila e ouvindo as vozes das pessoas que se encontravam no outro ponto de ónibus, vozes assustadoramente ampliadas pela quietude da madrugada.
Passaram-se vários minutos até que passou um ónibus, com destino a BH, vindo de Montalvània, no qual entraram as pessoas que estavam no seu ponto.
O silêncio, total e absoluta, caiu sobre o Major Prates, ouvindo-se apenas o suave sussurro da brisa a roçar o meu corpo e, acredito, também o daquela senhora, que permaneceria de pé, firme e ereta, no mesmo lugar onde eu encontrara há quase meia hora atrás. Somente nós dois...
Decidi ir andando.
Há apenas alguns passos adiante parei e olhei, novamente, para aquela senhora.
Quinze para seis... continuava martelando-me o ouvindo o horário que ela fornecera.
Olhei o meu próprio relógio que marcava 01:45 da manhã, imaginando a possibilidade de eu estar desorientando, de meu relógio estar atrasado, de... já estar amanhecendo... Mas, não... o ónibus de Montalvània passa por volta de 01:00 h.
Voltei até aquela senhora e indaguei:
- A senhora tem certeza quanto ao horário do ónibus?
Ela, impassível, respondeu-me secamente:
- Tenho, sim, senhor.
- É que no meu relógio não é nem duas horas, ainda... argumentei, ressabiando.
Aquela senhora ergueu o braço, rapidamente, enquanto retirava o relógio, e exclamou:
- OH, meus Deus! O meu relógio está de cabeça para baixo...
Consertou o relógio e saiu, talvez em direção à sua casa.
Já há uns trinta metros adiante ela parou e olhou para trás, onde eu, também parado, a observava.
- Muito obrigado, senhor! Disse ela, lá de longe.
Eu dei meia volta e caminhei para casa, consciente da distància a ser percorrida, mas feliz, sentido-me de bem com a vida, tendo à minha frente uma madrugada extremamente agradável. Já não sentia, tanto, o peso da minha mochila cheia de disquetes de computador.

Isso aconteceu, cidadão - E eu vi.
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