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Cronicas-->Homens-bombas -- 15/06/2006 - 08:16 (Elpídio de Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Pra quem acredita que os "chefes do tráfico" são todos ignorantes, leia isso... 23/05/2006 é a data em que começaram a divulgar este torpedo. Eu já havia ouvido falar nessa entrevista de um tal Marcola. Será que é verdadeira?

"Estamos todos no inferno. Não há solução, pois não conhecemos nem o problema.
-Você é do PCC?
- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas...E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro, ou nas músicas romànticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...
-Mas... a solução seria...
- Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento económico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que, de início, acabasse com essa merda de direitos desumanos, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver diálogo e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios...). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país.
Ou seja: é impossível. Não há solução.
-Você não têm medo de morrer?
- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bombas. Na favela tem cem mil homens-bombas... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no Bem, e eu no Mal; e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos bem diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês, intelectuais, não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... mas meus soldados todos são estranhas anomalias do torto desenvolvimento desse país. Não há mais proletários, ou infelizes, ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivada na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
-O que mudou nas periferias?
-Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila é despedido e jogado no "microondas"... ha, ha... Vocês são eleitores, vocês são dependentes do Estado, quebrado, dominado por incompetentes. Nós somos os eleitos do Insolúvel, temos métodos ágeis de gestão... Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio... Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte.... Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados.... Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque.... Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo.... Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados.... Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
-Mas o que devemos fazer?
- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó!Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atómica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou? Ipanema radioativa?
- Mas... não haveria solução? Essas massas que ainda crêem... tipo galo, urubu, os "coríntias"? Então, elas devem desistir? E as massas que trabalham regularmente nas empresas?
- O normal será nos apoderarmos de todas elas. Já temos cabeças em muitas organizações regulares. Estão sendo bem usadas. Estamos provocando o caos nos postos gerenciais; o contador vai pra área de engenharia, o engenheiro vai ser diretor financeiro, o economista vai ser chefe da vigilància, quem é lateral vai jogar no meio, e assim por diante. Nós acreditamos até em capelão do exército comandando a infantaria. Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele, nós somos os eleitos sem títulos, e vocês...são eleitores, isto é, não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. È bom começar por não confundir venda de craque, uma vez por ano, com venda de "crack", aqui e agora, oh, mano. Como escreveu o divino Dante: Lasciate ogna speranza voi che entrate!
- Percam todas as esperanças vós que entrais ...
- Neste insolúvel inferno...para vocês! Para nós é o nosso Insolúvel Céu!"
Veja mais==>>>O futuro dos deuses políticos






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