Cheguei na festa e parecia que todos tinham mergulhado em potes gigantes de lantejoulas fajutas tal qual era o brilho incipiente daquelas coisas malucas e gesticulantes. Todos sorriam em demasia parecendo que esperando a morte pra mais tarde, se despedindo assim de todos deixando pra trás uma imagem de pessoa feliz e sorridente. Eu cheguei já meio alto graças a algumas cervejas mamadas em casa pra aguentar a pressão inicial. _Oi! - dizia eu não muito convincente. _Oi! - diziam as pessoas nada convincentes. Todos pareciam gargalhar demais pra mim, todos super felizes, se abraçando, se amando, se lambendo, se esquecendo de brigas passadas, jurando que nunca sumirão de vista em meio a brindes e mais e mais gargalhadas. Eu saí de fininho e comecei a mamar meu uísque com gelo num canto não muito longe de tudo. E dali, fiquei conversando uma coisinha aqui, outra acolá, e mamando meu uísque on the rock´s. No começo eu mantinha uma pose bacana. Enfurnado dentro de uma gravata e terno; cabelo melado de gel num design maluco, paralisado e idiota.
A banda nesse momento tocava umas músicas horríveis, sei lá, tipo Jovem Guarda. Mas uma das cantoras era de matar, dentro de seu vestidinho branco démodé. E eu ficava olhando-a e imaginando o que mais poderia me fazer feliz ali, naquele momento. Virei meu copo de uísque e completei-o no mesmo momento, enclausurado dentro minha gravata ridícula. _Oi! - disse eu mais umas 400 vezes. _Oi! - me disseram umas 700 vezes. Eu já sentia uma coisa que começa a subir estranhamente a cada gole, já sabendo que aquela noite não terminaria bem. Pensei: foda-se, o que mais tenho a perder? Matei a primeira garrafa de uísque...
O que as pessoas querem dentro dessas roupas de lantejoulas fajutas? O que elas sonham a cada gole de champanhe barato? O que elas esperam encima de sapatos extremamente desconfortáveis e calcinhas enfiadas no rego? Será que tudo tem um propósito de ser, se existir, de acontecer? Continuei mamando meu uísque nacional e de péssima qualidade sem saber responder o que eu quero da vida. Talvez naquele momento eu só queria mesmo é tomar meu uísque, falar meia dúzia de merdas e sumir sem deixar rastros de meu crime se eu vier realmente a matar alguém, e a probabilidade é enorme Não pode ser possível que se contentam com tão pouco.
Fui encontrando amigos e amigas, colegas de classe e aqueles e aquelas que te conhecem pelo nome e até chegam com piadinhas sem graça e pedala Robinho certeiro entre a têmpora e o ouvido, mas você tem absoluta certeza que nunca viu aquele ser humano em toda sua vida. Uma risadinha sem graça aqui, outro aperto de mão safado acolá. Estava, até então, tudo sob controle. Eu com meus já quase 2 litros de uísque circulando freneticamente em minhas veias, e ninguém até o momento havia tentado me matar, mesmo eu desconfiando de um garçom que andava por lá servindo quitutes com cara feia. Sua cara era de assassino, sei lá, tipo daqueles seriais de filme americano, e eu imaginava que ele queria me matar e depois mataria um por um e logo comeria todas as mulheres da festa numa orgia sensacional; diga-se, pra ele. Num movimento de súbito levantei as mãos quando ele passou e logo o golpeei na barriga, de leve e disse: _Aê campeão! Ele me olhou com desdém tal qual rico olha pra pobre e saiu sem sequer esboçar qualquer sorriso de minha brincadeira inofensiva. Ali vi que ele não passava de um grandessíssimo idiota. Devia ter prisão de ventre, sei lá.
Terminei meu copo, fui até a pista de dança onde estava aquela cantora melindrosa mencionada e sem dizer sequer uma palavra lasquei-lhe um beijo na boca por longos segundos, logo me virei e fui embora porque já começava a me sentir mareado pelos 2 litros de uísque consumidos e apenas sai.
Atravessei a cidade dormindo no banco de trás do táxi.