No meu trabalho não é raro, lá pelas tantas, que
eu ouça ¿Professor,
para que serve a literatura?
Claro que a resposta a uma indagação enormassim
só podia ser, também, descomunal: o silêncio. Mas,
sei lá por que motivo, quebro-o. Para
nada, filho, a literatura serve para nada.
E, antes que a sensação de não-resposta outra
perguntirrespondível se-torne, arremato. E
para tudo.
É claro que, assim, respondo e não respondo, até
porque, como disse, certas interpelações, de tão
grandiosas, só admitem, como contraparte, algo
igualmente monumental: a boca fechada. Desta
feita, porém, lembrei-me de que, em "A Hora da
Estrela", o escritor Roberto S. M conta que o Sr.
Raimundo, acho que é esse o nome, o Sr. Raimundo
só não despede do emprego a pobre da Macabéa porque
sente pena da moça e só sente pena da moça porque
está lendo um livro que, se não me-falha a memória,
chama-se "Humilhados e Ofendidos". Eis,
pois, para que serve a literatura. Então,
professor, então a literatura mata. ?,
?. ¿Não
dizem que o suicídio de Werther desencadeou, Ã
época, uma onda de auto-homicídios? Ora,
filho, literatura é literatura, vida é vida.
E, antes que m´interroguem que é a vida, enlaço
as mãos atrás das costas e caminho, lentamente,
por entre as carteiras com jovens corpos e quiçá
velhas almas, eu a cabeça baixa, um tanto grisalha,
eu um simples professor que, no belo crepúsculo
solar de Teresina, se-curva, navalhado pela
saudadinfinita de minha Mãe e as própriasinsistentes
perguntas, vazias, todaselas, da mais mínima resposta.