Seu time do coração vinha de tantas derrotas seguidas, um número inédito na história do clube. Para aquele final de semana a expectativa fora enorme desde o domingo anterior, a maioria da torcida contava com uma vitória sobre o arqui-rival, nada melhor para animar o time e levá-lo a uma consequente recuperação no campeonato, que já se aproximava da fase final de classificação. Mesmo sabendo que seu amado time não tinha mais chances, queriam aquela vitória para interromper a sequência desagradável de derrotas, melhorar a posição na tabela e pensar no campeonato do próximo ano de cabeça erguida. Mas como no futebol tudo pode acontecer, naquele final de semana não foi diferente. Teve início o jogo e no primeiro tempo parecia que só o time adversário estava em campo: os gols foram saindo um após o outro. Já passava da metade do segundo tempo e o seu time, mais uma vez, já estava perdendo de tantos a um, uma tremenda goleada dentro de casa. Que vergonha! Aquilo era demais para o seu desespero. A torcida chateada manifestava a sua insatisfação com o time. Ele não. Sua insatisfação era diferente, ele não suportava aquilo, não seria aos berros de "burro", para o técnico, de "queremos raça", para os jogadores, e outros tais que mudaria seu estado de espírito. Foi sentindo cada vez mais, com a proximidade do final do jogo, uma angústia que não cabia em si. Aquele jogo estava sendo transmitido ao vivo para todo o país e ele também sabia disso, pois fora muito divulgado na véspera. Num ímpeto de heroísmo, ele, de quieto no seu canto, se levantou, saltou o alambrado, atirou o radinho de pilha para o lado, saiu correndo feito um louco e entrou pelo gramado adentro, com o jogo ainda em andamento e correu, sem que ninguém o alcançasse, em direção ao artilheiro e maior ídolo do seu time até que conseguiu e aos prantos o abraçou, no centro do gramado, ao vivo, para todo o país. Foi uma cena condenável pelo ato da invasão, mas, ao mesmo tempo emocionante, dessas que só o futebol nos oferece.