Escuto uma voz me chamando. Não sei se é minha consciência, Deus, alguém de carne e osso na casa do lado gritando feito doido, meu coração. Alguém me chama, sempre, intermitentemente. Será a morte, o amor, a vida? Só sei que me faz continuar, seguir, não querer nunca mais parar, agir. Uma explosão cósmica se aprofunda dentro, feito uma bomba atómica em meu peito raso, largo, que cabe confortavelmente meu coração imenso, e mais alguns itens raros. E ela me chama, a dama invisível, sussurrando em meu ouvido meu nome; distante, constante, entre os dentes. Ah, como amo. Quanto amo não se sabe explicar, quantificar, qualificar, e pouco sei exteriorizar, mostrar, sentir, só sei hoje escutar. Quando sonolento escuto mais nítido, mais forte, mais alto meu nome sendo sussurrado, grito contido, quase um gélido gemido, tocando meu rosto com a magia transcendental da leveza do além; mística e inquieta voz calma, que comove, consola, intensifica, suspende minha carne pesada de toda matéria.
Será a voz dos anjos, cantando do alto a música da liberdade? Será o grito cáustico do inferno, vibrando em ondas sonoras o amor? Será o místico adeus pois já preparado estou pra seguir meu caminho? Não sei teorizar; só sei sentir, escutar. Quando mais novo a voz era mais constante, como que clamasse por mim, como se pedisse socorro sem pedir, me chamando, pelo primeiro nome, sempre. Parava por aí, não dizia mais nada, nenhum recado, mensagem, só apenas e simplesmente meu nome sendo gritado baixo, mas também sonoramente lindo, estático e calmo.
Meu guia espiritual me mostra tudo, o todo. Não acredito em homens, apenas na voz que me guia. Místico, inquieto, metafísico, calmo, sou eu, hoje, submerso na minha própria fé. Mais perto de Deus...