Vejo-me, forçosamente, propenso a mais uma vez falar de como era no meu tempo. Pretendo, de antemão, deixar esclarecido que um regime de governo despótico e oligárquico como é a ditadura, nunca foi nem será o melhor para o povo de uma nação. Não quero ser mal entendido. Porém, em se tratando do controle de atos e ditos impensados e impensáveis, foi uma fase exemplar em nosso país. Desde o mais humilde cidadão, enfurnado em algum escaninho desse imenso Brasil, até o meio de comunicação mais sobressalente, tinha-se que olhar temeroso para os lados antes de pronunciar o pensamento ou por em risco a continuidade de um negócio ao veicular qualquer mensagem discordante das idéias de então, variando as penas conforme o caso. O primeiro dormiria atrás das grades ou deixaria para trás a terra natal, conforme a gravidade do ato. No segundo caso, fechar o estabelecimento é o mínimo que poderia acontecer.
Quero com isso, tentar evidenciar o descalabro da situação atual quando se trata de coibir o mau uso da liberdade de expressão e de imagem. Não há palavras que possam descrever o caos que se encontra instalado em nossa sociedade, senão, vejamos: Erotismo cada vez mais vulgar e insinuante; músicas medíocres e de duplo sentido, quando não, descaradamente ofensivas; programas de televisão de um péssimo gosto, destituído da mínima criatividade. Quanto à s novelas, chegam a ser um caso a parte, dada as mesmices dos temas, dos diálogos e das cenas vergonhosas que apresentam, não levando em conta o horário e muito menos quem possa estar do outro lado assistindo.
Olhando bem para trás dos meus bem vividos 53 anos, chego a me emocionar quando lembro da alegria expressa no rosto de um escritor ou compositor ao sentir a repercussão que sua obra alcançou perante o público, após ter escapado das garras imperdoáveis da censura. A satisfação chegava, então, em dobro, porquanto o feito era enorme e a mensagem que o preocupava conseguira alcançar o seu destino.
É triste constatar que isto ficou num passado do qual só nos resta a lembrança. Para o bem estar da mídia, vender é tudo o que importa. Com abençoadas exceções, os discos de ouro ou de platina chegam à s mãos de seus detentores impregnados da materialidade e do interesse marqueteiro que permearam a obra. Percebe-se um manipular de interesses, visando vantagens imediatas em detrimento da arte, pondo-se de lado, num canto do coração a ànsia e o reconhecimento da arte verdadeira e salutar. Há um gotejar infinito de cifras e mais cifras, deixando nublados e obscurecidos os largos horizontes do bom gosto.
Mas, para nossa felicidade, este bom gosto ainda existe. Aliás, ele sempre existiu, pois faz parte da imagem verdadeira das existências. O belo é criação de Deus e é perfeito por natureza. Analiso este fato como uma fase de depuração de tudo quanto não presta para só restar, no final, a essência da vida em forma de arte verdadeira, pois a própria vida em si é uma arte e Deus sabe muito bem do que gostamos de verdade. E há de nos suprir a todos.