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Cronicas-->Carcereiro -- 03/10/2006 - 06:38 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Essa vida de carcereiro é um problema. Tenho de me virar, tenho de fazer uns bicos pra tentar sobreviver neste mundão, mas tenho também de me segurar nas bicas, nas quebradas, ficar esperto. Tenho de ser malaco, tenho de ser malandro, a gente pensa que a coisa está sossegada, tem uma matraca te esperando na esquina mais estranha. Quatro de meus amigos se foram. Mas eles vão ver uma coisa, eles dirão depois que fui eu, mas eu juro que isso não fica assim. Não vou dizer que aprovo, mas o bundão lá de cima não sai do escritório, eu e meus colegas é que queimamos pestana pensando no que fazer e depois ele diz "ah, é, precisa dar segurança", bom, é que não é o olho dele que está a perigo, é o meu. O nosso. O seu, não os deles, nem de um, nem de outro lado. Um problema, seu leitor, um problema. Essa noite mesmo matei um cachorro que revirava lata. Eles dizem "é melhor armar" então reconhecem que não temos armas e o outro lado está mais seguro, caceta. Se tem de armar, além do mais, prova que o que tem de mais de um lado, tem de nada do outro. Eu me garanto, isso sim. SOU É BESTA? Guardar feras e ser enjaulado por elas lá fora? Eu me respeito. Coitado do cachorro: ele, lata de lixo, tudo pro espaço. Mas afinal, podia ser outro cão não podia? Sou é bobo? Minha mulher, bom, esta santa me atura não sei como! Às vezes chego cheirando cadeia, aquele odor e os olhos das feras me seguindo, me marcando...

(Tá com cheiro de novo!)( Mulher...)( Nem insista; vá se lavar. Depois vem jantar!)

Tomo mil banhos, de sal grosso e até de creolina! Volta e meia tem piolho me abusando, vêm de lá, meu filho é que percebe:

(Mais um!)( Caceta!...)( Fala assim não pai!)( Não é com você!)

Daí, chororó. Daí, a mulher emburra, daí, Creusa.

"Até quando?... "Já te falei, me dá mais um tempo, ela é mãe dos meus filhos!..." "E eu sua diversão? Olha, você que me procurou me prometendo mil coisas! Eu já estou até aqui!"

Daí, trabalho e os olhos gelados da Ala Porqueira e os sinais e as promessas de fim de vida, assim vai a minha.

(Hoje mamãe vem em casa. E olha, nada de beber, da última vez ela saiu daqui com náusea de ver você que nem esponja!Vai que hoje não bebo. Só guaraná!)

Daí, Creusa...

"Hum mas tu é gostoso mesmo hein? "Pazes?""Tá, mas fica esperto"

"Dá um tempo, a gente leva..."

Às vezes olho as grades, as visitas íntimas e tudo se mistura em minha cabeça. Eu, com grades para tomar conta e minha vida lá fora com grades na família, na mulher que me olha com desprezo, na bunduda que se aproveita...Afinal quem está preso? Mas eles vão ver, quatro dos meus se foram. Eles que se preparem.

Daí, o chefe: Ramiro, estou notando que você está relaxando com os elementos. Veja lá hein?? Nada de cigarro ou outra coisa, se tiver eu te boto pra fora, ouviu? Tudo igual. Tudo igual.

(Mas chefe! Eu???)( Não interessa! Estou só avisando!)

Daí, a sogra:

"Arruma a camisa, genro. Ó minha querida, se a mulher cuida bem, marido nota cem." "Esse aí? Ih Ih Ih..."

E lá vão as duas cochichar o que já sei, o que eu tantas vezes ouvi na cara. Olho para as janelas e vejo as grades do presídio, olho da vigia e vejo as janelas de casa... Daí...

"Tudo igual né mano?" "Fica esperto. Vocês que se cuidem." "Tem otário pra tudo. Se manca, Mané."

Daí...
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