E o papo se inflama na mesa do bar. Política, mulher, futebol, arquitetura, as vezes nada, silêncio entre goles, cigarro, olhares despretensiosos ao redor. Naquele dia, em especial, o bar estava barulhento; música, gritos, parabéns num canto, cumprimentos de longe. Sete pessoas na mesa, todos tentando falar ao mesmo tempo. Em certos momentos o papo era entre todos, em outros, papo de lado. Descia uma cerveja atrás da outra, as vezes uma cachaça da roça, um petisco pra dar uma equilibrada, uísque, coisa rara, mas tinha. Diego naquele momento, já meio alto, estava aéreo, pensando em algo, sei lá, talvez em outro lugar, enquanto Pedro, Maria, Carlos, João, Patrícia, Léo e Fernanda falavam, opinavam, fumavam, alguns, e bebiam, todos. Na mesa do lado um grupo pequeno de meninas parecendo meio perdidas, notava-se que não eram muito de bar, bebiam cuba, hi fi, ou algo parecido. O que se via eram copos com líquidos de cores diversas, laranja, preto, rosa, vermelho. Diego nota que uma delas também, como ele olhava o céu de um cinza espesso, poucas estrelas, de vez em quando uma rajada de vento frio. Ele, por alguns segundos procura seu olhar, buscando cruzar com o dele.
Ela, tão linda e delicada, parecia acima daquilo tudo, leve e sorridente, não sempre, mas sorria um sorriso luminoso as vezes, e ele entregue, simplesmente. Diego não conseguia parar de olhar pra ela. Não sabia nada sobre aquela mulher tão enigmática, que raptou seu olhar sem querer, na verdade, sem ter nenhuma consciência que o tinha feito. O papo na mesa continuava intenso, na dele, na dela, mas ele a tinha levado pra lugares abstratos, sem sequer ela aceitar ir. Ela era de uma intensidade natural, movimentos lentos, precisos, entre sorriso, algumas palavras soltas na conversa que ela não prestava muita atenção. Diego buscava seu olhar, mas ela nem sabia que ele existia; ainda. As vezes alguém na mesa de Diego o puxava pra conversa, e ele parecia voltar do transe, do além, de lá, e falava alguma coisa só pra desviarem a atenção dele. Mas logo voltava a ela, aquela menina que parecia ser tão suave em tudo, tão serena e discreta, linda, mas que parecia também, como ele, inquieta.
Diego levantou-se e foi em sua direção. Seu coração parecia querer pular pra fora do peito, mas com passos decididos chegou na mesa e apenas disse: _Oi, não te conheço mas estou completamente apaixonado por você! Ela, meio de sobressalto apenas sorriu. Quando pego de sobressalto ou a pessoa se torna grossa, irónica ou tola. Ela não, sorriu seus milhares sorrisos, sendo que Diego já estava encantado com apenas alguns, levantou-se e abraçou Diego com tamanha intensidade que a Terra estremeceu, e em seu ouvido apenas disse: _Obrigado por me salvar! Saiu andando, segurando firme a mão de Diego. Acharam uma mesa num canto tranquilo do bar, ela de cara pediu uma cerveja, convicta que era nem perguntou se Diego queria, apenas disse: _Uma cerveja e dois copos, por favor! Antes de chegar a cerveja, ela olhou tão fundo nos olhos de Diego que parecia conhecê-lo intimamente. Sem pedir, sem avisar, talvez até sem pensar preciptou a cabeça pra frente, até meio caminho a de Diego oferecendo-lhe o beijo. Seu aroma era de uma leveza suave desconcertante. Diego simplesmente olhou por uma fração de segundo antes do beijo e percebeu, nos detalhes do momento o maior amor do mundo. E a beijou eternamente...