É sempre o mesmo dilema: insistir ou desistir? Quando fazemos nossas escolhas e nossos objetivos não são alcançados logo, mais tarde ou mais cedo nos deparamos com esta pergunta. Insistir significa investir tempo, património ou emoções (todos, à s vezes), que deixam de ser aplicados em outras oportunidades. Então estamos dando algo, perdendo algo, esperando obter um retorno. Se ele não vem, investimos um tanto de nossa vida em vão, tentando comprar o nada por um preço que à s vezes é muito elevado. Já desistir significa reconhecer o próprio fracasso, nossa incapacidade de alcançar o objeto de nosso desejo. Há coisas que para serem alcançadas necessitam de muita insistência. Diz o ditado que quem espera sempre alcança, mas infelizmente não é bem assim, porque, por vezes, estamos tentando resolver uma equação sem solução e não nos damos conta disso, ou pior, fazemos de conta que não percebemos.
Quando, para obtermos o que queremos, o sucesso só depende de nosso próprio esforço é mais fácil. Nessas situações, sabemos que nossa persistência e perseverança serão recompensadas, salvo algum infortúnio que se situa no campo do imprevisível. O problema aparece mesmo quando o alcance do algo ou do alguém desejado depende de outra(s) pessoa(s), pois nesta situação nosso sucesso dependerá da vontade de outro ser humano. Só para lembrar, não é angustiante oferecer nosso coração para alguém na vã esperança de que ele o abrace? Se o ser humano é inviável, como teria afirmado Millor, então ficamos na perigosa situação de colocar nossas escolhas a depender do inviável.
Além do mais, só conseguimos percorrer um caminho de cada vez. Uma escolha é um caminho a ser trilhado e enquanto permanecemos insistindo nele estamos deixando de caminhar por novas sendas, observar novas paisagens, conhecer outras pessoas. Por isso, uma escolha é uma autolimitação que nos impomos, o que justifica a preocupação com a definição de qual seria o momento em que deveríamos desistir, buscando novos caminhos, quando o fim da estrada parece não chegar nunca. Cada uma de nossas opções deve ter um ponto de equilíbrio, que seria o momento exato em que as probabilidades de atingirmos o sucesso são maiores e a partir da qual começam a declinar. Graficamente, teríamos uma curva que se iniciaria ascendente até chegar ao ponto em que o sucesso seria mais provável. A partir de então, ela se tornaria descendente até o fracasso, significando que seria uma medida racional desistir a partir de agora. Num jogo de cartas, quando viramos uma carta do baralho, há uma probabilidade estatisticamente calculável de que obtenhamos a folha desejada. Infelizmente, na vida, não dá para tratar tudo estatisticamente, pois não podemos conhecer todas as variáveis.
Tal constatação não me impede de sonhar. O meu sonho de hoje é que alguém desenvolvesse um software que calculasse o ponto de equilíbrio das minhas escolhas. Eu sentaria confortavelmente na frente no computador, acompanhado de um bom café, digitaria as informações sobre a escolha que fiz no passado e que me atormenta no momento, apertaria um enter e teria o resultado automaticamente. O programa informaria que eu já havia investido "x" horas em "n" tentativas e completaria dizendo "idiota, não vês que a hora já é morta e não vais obter o que queres?" Então eu daria um murro na mesa e chamaria o computador de burro. É provável que eu continuasse insistindo no erro só para contrariá-lo. Pensando bem, acho que esse negócio de ponto de equilíbrio não iria funcionar. Em cada escolha há uma emoção envolvida e esta é surda à voz nem sempre agradável da razão. Em todo caso, se alguém tiver desenvolvido uma fórmula para calcular o tal ponto de equilíbrio, envie-me, por favor, porque eu estou precisando tanto!