Seu nome já a induz a ser uma escrava das doenças, Maria das Dores. Ela tem um armário cheio de remédios.
Das Dores sofre de dores nas costas, bico de papagaio, mas não faz exercícios físicos. Às vezes reclama de friagem, mas não deixa de andar descalço no piso frio.
Reclama que está com quarenta graus de febre e esquece que sai de uma sauna há poucos minutos.
Tem dor de cabeça e ardume nos olhos só que não usa os óculos de grau para costurar.
Conhece os nomes das doenças pelo nome científico: dor de cabeça é cefalalgia. Inflamação do nariz é rinite e ela jura que é dor nos rins. Labirintite é a inflamação no ouvido interno e tentam enganá-la dizendo que é quando a pessoa entra na sala de espelhos de um parque e demora a sair.
Das Dores diz que enxaqueca é doença de rico e o que ela tem é uma baita cefalalgia.
Quando ela pede para o seu marido comprar remédio para gripe ele sai com essa:
- Mulher, se tomares remédio, a gripe cura em uma semana, se não tomares ela melhora em sete dias. Por uma questão de economia, não compramos o remédio. Mas não adianta, lá vai o trouxa mais uma vez na farmácia.
- Certo dia falou para o seu marido que ele tinha que falar com o gerentologista, para que sua vida melhorasse. Seu marido foi falar com o chefe, pediu aumento e quase foi para o olho da rua.
Das Dores reclama de tudo, do sol forte, do frio, do vento e da chuva.
Fica triste quando alguém tem uma doença que ela ainda não acusou em si.
À noite seu marido sofre. Na cama vêem as desculpas. Hoje estou com dor aqui, no outro dia é ali e assim por diante. Quando aparece com doença nova na cama, seu marido, paciente, diz:
- Essa eu não conhecia.