Existem algumas gerações que curtem as estradas e os meios mecànicos de percorrê-las. É o gosto por máquinas de transpor distàncias, o prazer de dirigir por horas seguidas.
Estou em uma dessas gerações, sem saber exatamente em qual, se entre as mais retas ou as mais curvas. O detalhe não vem ao caso, porque retas e curvas são, para nós, traçados que dão prazer. É claro que as grandes retas contêm, implícita, certa monotonia, só quebrada pelas paisagens e pela pimenta das próximas curvas. Essas podem ser bonitas e emocionantes, embora perigosas e traiçoeiras.
Mas o que tanto nos seduz nas curvas?
Se na espécie humana as curvas femininas bem desenhadas estão entre as grandes maravilhas da vida, nas boas rodovias as curvas perfeitas estão entre as melhores coisas da viagem. Numa viagem ao litoral, fiz uma foto interessante sem me dar conta, de imediato, das combinações visuais nem das relações de idéias que a imagem contém. Em primeiro plano, está ela curtindo a nossa viagem. Ao fundo, um bom àngulo da Rio-Santos, com suas curvas sedutoras e perigosas.
Histórica, lendária, fascinante, essa rodovia se assemelha a certos paradoxos da vida. Belezas por todos os lados, emoção a cada momento e perigos em cada curva.
Mais tranquilas são as curvas da Tamoios, naquela mesma malha. Mais apimentadas que a 376 entre Curitiba e Joinville e menos ameaçadoras que a índole suicida da Taubaté-Ubatuba, transpondo a Serra do Mar com absurdos topográficos. Talvez menos, também, que a Serra das Araras, na Dutra.
Agora, para quem esteja ao comando de uma bela moto em passeio não radical, a Dom Pedro I é uma boa pedida, com suas curvas suaves serpenteando bonitas paisagens.
Para quem gosta de sentir os prazeres das curvas, tudo isso é muito bom. Ou melhor, será bom enquanto não se perca o bom-senso e a concentração. Distrair-se por um segundo com paisagens ou situações paralelas pode ser desastroso. Tão perigoso quanto iludir-se com curvas traiçoeiras ou paisagens alheias nos planos afetivo e amoroso...