Nunca irei morar em condomínio fechado, desses tipos que estão na moda com nomes de pintores renascentistas. Credo. Deus me livre, e livre meus filhos também quando eu vir a tê-los, pois que eu saiba até hoje só ficou no quase. Imagina ter que conviver com pessoas praticamente iguais a mim. Gostos parecidos. Piscina com cascata. Casa sem portão dando a pseudo-impresão de segurança. Ruas sem vida, calçadas que não proporcionam contato. Casas, carros, gestos, pessoas inescrupulosamente iguais. Tchauzinhos insosso de mão lànguida com sorriso estampado na cara, enquanto regam o jardim feliz com o cão de pedigree correndo e saltando e lambendo as partes da vizinha enquanto ela leva o lixo toda serelepe pra lixeira coletiva, diga-se, com cores diferentes para reciclagem que eles acreditam que reciclem, mas se enganam, como sempre. Dentro dos muros do condomínio eles se aprisionam e comem atum enlatado e uma lata de milho e azeitonas e leite condensado tudo na base da colherada. Assistem TV a cabo tomando uísque com gelo enquanto a mulher anda de pantufas do Pato Donald pela casa de carpete fino. 3 ou 4 carros na garagem. Filhos de aparelho fixo e espinhas na cara que tem mais amigos virtuais no Islàndia que no próprio condomínio.
Prefiro a cidade real. Não essa falsa cidade dentro da cidade verdadeira. A cidade real proporciona diversidade, diferenças, vitalidade, animação, construindo assim a sociedade. Tem problemas? Obviamente. Mas tais não são mascarados como nos condomínios, em que tudo parece funcionar, mas é um parecer falso, já que não é e sim apenas aparenta ser. Quem mora em condomínio fechado estão fadados á paranóia e alienação. A cidade explodindo em todos os sentidos enquanto eles se fecham em si mesmos, num grupo de pessoas iguais pra se sentirem protegidos deles mesmos, talvez. A troca de informação das ruas, com pessoas diferentes, que estão ali por motivos diferentes é a essência da cidade real.
Sujeira, assaltos, paqueras, movimentação, cores, barulho, sinais de trànsito, camelós, corre-corre, encontro, diversificação, vivacidade, ah, viva a real cidade, sempre. Estudo Planejamento Ambiental Urbano, amo a cidade, pois se não a amasse ela seria apenas mais uma puta barata, problemática, cheias de grilos e loucura. Precisamos dela como ela precisa de nós. Não a abandonemos assim, solitária, em busca da prisão nefasta dos condomínios fechados repleto de amor, paz, camaradagem, mas pobre e vazio de conteúdo, de desgraça, de vida.
Cidade, eternamente serei seu fiel protetor em todas suas esferas.