_Ah, ele bebe demais!
_É verdade, sempre por ai dando barracos e beijando putas na boca, e de lingua!
_Tão jovem e já assim! Ele mais parece um monte de merda insensível! Vomitou na cara da atendente do Bradesco semana passada!
_Isso não é nada. Você viu o que ele fez ontem no Tulipa de Ouro? Cara, aquilo foi o óh do borogodó!
_Escutei algo, ta todo mundo comentando!
_Então, onde já se viu fazer aquilo! Acho que ele está desmiolado! E suas roupas? Nada combina com nada. Ah, ele bebe demais!
_Outro dia me disseram que viu ele com mendigos na sarjeta cantando Caubi Peixoto com uma guirlanda de flores no pescoço e óculos escuros! Detalhe, era madrugada.
_É, e ainda tem muitas meninas que querem dar pra ele só porque escreve umas baboseiras sem sentido nenhum!
_Ele diz que um dia ganhará o Nobel de Literatura e que limpará a bunda com ele.
_Ah, ele bebe demais!
Diego coça a orelha com a chave do carro. Diego xinga todo mundo quando esta bêbado. Diego não sabe diferenciar comida tailandesa de comida árabe. Diego é insensível e autoritário. Diego pensa que é um gênio, mas só fala merda. Diego bebe demais, ah, todos comentam.
_Papai porque aquela mulher ta com a barriga assim?
_Ou ta grávida ou comeu uma melancia, filhinha linda!
_Por que ela ta grávida?
_Ah, meu anjo, porque Deus quis puni-la por algo atroz que deve ter feito.
_Puni-la? Mas ela é má?
_Deve ser; todo mundo é. Mas a maioria disfarça até que bem.
_Porque disfarçam?
_Porque precisam viver em sociedade e serem admirados pra alimentarem seus egos cheios de merda, meu anjo.
_Por quê?
_Porque são uns burros, minha bonequinha!
_Mas burro é aquele animal feio, não é?.
_Todos nós somos animais, todos burros e principalmente feios, meu amor.
_Por quê?
_Porque deve ser melhor que ser um flamingo ou um jumento, doçura!
Chegando em casa, Diego vai á cozinha e encontra sua mulher que não possui absolutamente nada dentro da cachola e diz oi.
_Querido, meu filho da putinha lindo, te amo tanto!
_Baby, não me venha com isso agora!
Na sala, sua filha brinca com uma boneca. Diego, perplexo, não entende como algum pode ser feliz com tão pouca merda. Pega uns trocos, a chave do carro que mal se arrasta sobre os pneus velhos e sai. Pára no Tulipa de Ouro. Entra e dá de cara com 2 velhos amigos.
_Ah, ele bebe demais! - diz um deles. Não aqueles, outros.
_Quem? - pergunta Diego.
_ah, é, oh, ninguém Diego! - diz o outro.
Diego senta, pede uma cerveja e coça a orelha com a chave do carro. Bebe a primeira, a segunda, a terceira, e por ai vai.
_Sabiam que vocês 2 são uns cretinos?
_Que isso Diego, ta doido?
_Vai se fuder, você tem cara de paçoca amassada. E você tem no meio de sua cara gorda 2 bola insensatas que chama de olho.
_Óh (sic)!
Diego se levanta, vai ate o balcão e diz pra colocar as 10 cervejas na conta. Sai e esquece o carro. Senta na sarjeta com mendigos e canta Caubi, de novo. O céu está que é uma beleza. O vento assovia. Os carros passam, e dentro somente amontoados de carne e ossos e músculos e corações, somatória de coisa alguma. Sente a vida em sua plenitude. Vai pra casa andando. No caminho toma um tiro de bala perdida. Entra pras estatísticas. Pelo menos nunca terá de pagar as 10 cervejas e pegar aquela carroça que chamam de carro. E só...