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Cronicas-->Das Despedidas -- 17/01/2007 - 23:13 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quer saber, querida? Pensei que você fosse tudo que eu precisasse para mim. Pensei que eu em mim não me bastasse, somente seus olhos... Dentro de tudo aquilo que sonhei com alguém, você era perfeita. Desde os olhos, a curva de seus lábios, a luminosidade de seu olhar maravilhoso e as covinhas que encantam quem a vê sorrir e assim vê o mundo se abrir numa revelação de coisas profanas, num esgar de prazeres ocultos e indizíveis. Quer saber, querida? Eu pensei que as estrelas de seus olhos brilhassem para mim. Um dia pensei assim, um dia eu fantasiei em meus delírios que eu e você andaríamos num plano de luz distante, sós e unidos num uníssono amor, mas tudo sempre vai por terra, que sonhos são o início e o fim em si mesmos, basta dizer que sonhos são, simples farrapos da realidade dura que nos cerca. Basta dizer, querida, que de sonhos as barrigas não se alimentam, basta dizer que aquela manhã em que suspirávamos enlaçados num abraço não passou de uma quimera, aquela noite fria em que nos confessamos como se nos esperasse a morte à frente das horas...Foi vã. Nada aconteceu, nem um movimento se fez, nenhum ato se concretizou, apenas nos vimos e imaginamos o que na realidade não passou de falsa verdade. Querida, passamos a apagar tudo o que de bom podia ainda restar de nosso possível encontro, o Encontro, o verdadeiro momento de estarmos a sós, eu e você, numa revelação desnuda, só as peles se tocando, como a sua pele de pêssego em minha pele já madura, dois frutos de estações diferentes que se encontram na maturação das eras,qual nada, nunca haverão nem as sementes. E eu que pensava que você era a flor, a semente e o caule de todas as seivas possíveis de minhas nervuras de séculos, qual o quê. Querida, não sei o que lhe digo, se lhe digo adeus agora, quando ainda está aí na mesa, surpresa com meu olhar definitivo, ou lhe digo depois, quando eu estiver atrás de você e você perceber que foi vão fugir ao que nos propusemos, nosso inegociável destino, nosso trato tácito, nossas mãos mais que juntas e enlaçadas num movimento espasmódico. Quer saber, querida? Sua pele de pêssego arrepia, meus olhos serenos contemplam sua face risonha e eu já não vejo os pássaros voando acima das planícies, só vejo as crateras do Abismo; Note bem, querida, e isso nem é o começo, é o fim de tudo e eu não queria assim, queria você num enlevo, perto de mim, mas jamais a tive e agora, tenho de me contentar, assim, somente com um vulto, um fantasma vivo, uma imagem de um sorriso que me povoou de imagens estranhas, será que tudo não passou de uma breve passagem de um cometa?

Quer saber querida? Tudo não passou de uma passagem de um cometa. Um cometa que nunca se realizou, um vapor gelado que diminuiu sua velocidade, coagulou seu tempo entre nós e se foi, num momento que jamais se recuperará. Jamais.

Eu sigo meu caminho. Agora sinto, basto-me a mim mesmo, sem esquecer jamais o que jamais poderia ter sido e jamais foi. Porque a vida é feita de momentos que jamais existiram permeando momentos que exíguos, deixam suas marcas indeléveis e somem na vastidão da noite atroz e estranha dos tempos. Uma voz, um grito de criança, um perfume de lenta consistência, um breve movimento de quadris que deliciam a vista, uma música marcante, tudo deglutido, tudo esmagado pela persistência e ferocidade das horas que nos cercam de um destino inevitável. A ferocidade das horas que nos cercam de um feroz destino que nos cerca de cuidados, que somente adiam o inevitável encontro, o Encontro de nós com nós mesmos, na mais recóndita das horas, aquela que nos cobrará a presença de nosso mais íntimo segredo e sucumbirá à eternidade. A ferocidade das mãos que subiram aos céus e pediram perdão àquele que nos concebeu num átimo de loucura, num gesto de pureza extrema, a ferocidade do tigre que devora a presa, que é nosso destino, é nossa hora, então querida, eu sigo meu caminho e você o seu. Quiçá nos encontremos um dia.
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