Escrevo aqui mesmo, nesta janela cibernética aberta na veia sangrante de eletricidade estática de meu coração, para o mundo. De minhas mãos pulam esses vermes minúsculos, letras que se confundem com sonhos, palavras que jamais são lidas ou sequer ouvidas, num sussurro cósmico e abstrato.Derramo flores nas janelas mas ninguém jamais viu sequer suas cores, sequer sorveu seus perfumes. Você não viu nem fêz questão de. Você. Encho laudas de kilobites megaquànticos de informações binárias e terabites de terríveis constatações para você passar ao largo, numa quimérica pose de baco desconsolado, na eterna cama dos desolados da Terra; não, você não viu nem vê, sou um diáfano ser de vapor sem sentido, caótico qual nuvem de partículas de fótons carregados num átimo de um segundo centelha nervosa. Escrevo aqui mesmo, neste olho faraónico que tudo vê, tudo sente mas a ninguém dá o prazer do contato físico, em eterna e masturbatória sensação onírica de deuses em túmulos de luz e ossada, essa maldita ferramenta que nos reduz a poeira de nada, como eu me sinto e você, nada, nem aí com o peixe, nem perto de chegar sequer aproximadamente próximo a mim. Não que eu me queixe, imagine, não que eu me importe, que é isso, não que eu me deixe levar, qual é, eu quero é me divertir, porisso abro os reposteiros dessa merda toda e lhe mando uma bomba suja de cobalto de reações imprevisíveis, lhe mando um contacto estragado e infectado por miríades de planetas calcinados, eu lhe mando um talho de uma tarde sem luz coagulada, eu lhe mando um recado de amigo: Aqui, meu caro, meu amigo, aqui nessa palhoça, aqui nessa joça ou neste poço onde jaz tua geometria, aqui nesta bagaça, nem vem que não tem não.