Com a ajuda do Fotoshop, acabei de copiar os meus olhos de uma foto antiga e colei-os sobre os de uma foto de Rui Barbosa. Deu um ótimo resultado; agora, é como se eu pudesse, com meus olhos e com a cabeça de Rui ler sua crónica, que abaixo transcrevo, e em seguida, com minha própria cabeça comparar a realidade da política brasileira de hoje com a do tempo dele.
É aplicação de um exercício que me foi passado pelo Dr. Eli Bonini Garcia, consultor, estudioso da Dialogia: as etapas do exercício são chamadas de máximas do sensus comunis; primeiro, pensar por si mesmo (máxima do conhecimento); em seguida, pensar como pensa o outro (máxima da mentalidade alargada); e, por último, a máxima da consistência (figo e folha de figo, seu coração e sua língua, unidos, professando o que você concluiu como o melhor possível para a situação.)
Em suma, já fiz o meu próprio "santinho", e coloquei-o na tela do meu computador, como pano de fundo, a fim de preparar-me para votar com a memória bem refrescada nas próximas eleições. Sem frescura, você pode fazer o mesmo! É um ótimo lembrete!
Ponha seus olhos em Rui, use o pano de fundo da tela do seu computador e, de quebra, cole uma cópia na parte externa da porta da sua geladeira maior.
TENHO VERGONHA DE MIM
Rui Barbosa
Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar atos criminosos, a tanta relutància em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor, ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.