Estou no portão de casa, vislumbrando a arvorezinha na minha calçada, a qual plantei e admiro todos os dias torcendo para que ela cresça logo e me dê "aquela" sombra, quando presencio uma cena que me paralisa, ou melhor, me hipnotiza.
Pela calçada, um menininho aparentando seus 7 anos surge próximo ao portão, puxando um cordão e, para alavancar de vez o momento "emoção", surge um caminhãozinho de plástico, medindo seus 7 centímetros, tracionado pelo barbante. E logo atrás, numa parceria fiel, um segundo menino, de mesma estatura, com um outro modelo de veículo, fazendo barulhos com os beiços, numa onomatopéia de motor, todo feliz.
Estático, observo a cena, onde se inicia um filme do passado, juntamente com uma espécie de sentimento que diz: "algo está errado aqui!". No breve e relàmpago filme, me vejo em Minas Gerais puxando um caminhão de plástico sobre montanhas de brita, de areia, buracos na estrada de terra, tudo ao bom e alto som de beiços motorizados, uma ótima lembrança da infància. Em paralelo, pergunto-me o que esses meninos estariam fazendo na rua na era do videogame e computadores.
Nos poucos segundos que me vejo paralisado, os meninos me olham de cima a baixo, fico sem graça, pois devem ter percebido meus olhinhos brilhando de vontade de pegar um caminhãozinho abandonado no quarto dos fundos, dentro daquela caixa velha de papelão, e participar do comboio, babando durante a sonoplastia.
Sinto-me criança no ato daqueles dois garotos que redescobriram essa brincadeira fora de época. Minha esperança de mudar o mundo é alimentada.