Rir de si mesmo é uma nítida e completa demonstração de inteligência, sagacidade, esperteza, humildade. Por fora estão os que se levam a sério demais. Cara fechada, sobrancelha baixa, mão no queixo, olhar vagaroso, tudo pra blá blá blárizar absolutamente nada demais. No fundo ninguém diz alguma coisa assim, tão interessante, mas o bom e o sensato é ter consciência disso, e logo rir também de sua própria incapacidade. O que me faz rir mais que a Praça é Nossa é aquele tipo de pessoa que pensa que sabe alguma coisa que todo mundo sabe e diz como se ninguém soubesse. E ao terminar seu discurso medíocre toma um gole de algo, ascende um cigarro e solta a fumaça pro ar com pose de lord e cara patética. Ai você fica ali, fingindo que tudo está muito interessante enquanto conta os azulejos da sala com precisão matemática. E o mais impressionante é que quando a pessoa acaba de falar não cai na gargalhada daquelas de tirar o fólego, porque pra você, provavelmente tenha sido a melhor piada da semana, do mês, do ano, dependendo da inspiração e do tema de quem fala. E o pior tipo de falante é aquele que discorre habilmente sobre teatro, arte, poesia, cinema e literatura. Esses temas são ótimos para sabedoria própria, e não pra ficar falando por ai cheio de orgulho respingando babas que voam da boca diretamente para aquele osso que fica logo abaixo do olho do pobre coitado que infelizmente escuta.
O mundo só está assim porque muitas pessoas se levam tão a sério que acreditam piamente serem mais inteligentes, bonitas, fortes, cheirosas que as outras. E os ricos, pobres deles, só têm dinheiro; nada mais. Eu dou muita risada de meu leve desajuste social, quando, por exemplo, estou num almoço com pessoas que não conheço. É patético meu desconforto. E meu jeito alvoroçado de fazer as coisas, minha hiper-atividade, sempre um tom acima da maioria. Mais rápido, enérgico, destrambelhado. Nada mais engaçado, pelo menos pra mim. Quando rimos de nós mesmos conseguimos ser mais naturais, espontàneos, porque realmente se alguém rir de você, mal saberá ela que antes disso você por dentro de sua cabeça desmiolada já gargalha.
Seja você mesmo, sem medo, receio do que pensarem, porque se pensarem algo ruim de você sem uma auto análise digna e diga-se, risonha, esse tal pensamento não passará de perda de tempo.
O mundo ficaria pesado demais se assim não fosse. E o resto, digo rindo; foda-se...