Sou mesmo um caso perdido, senhores. Reconheço e sei disto. Vivo aqui nesta rede, como se fugindo de mim mesmo ou achando reflexos meus em espécies de poças eletrónicas, num arremedo de imagem ou impulso de elétrons fugidios, imaginem vocês. A mecànica quàntica nunca esteve mais certa, em se tratando de minha pessoa, pois pulo de um sítio a outro em segundos, sempre sem prestar atenção, olhando de tudo um pouco e sempre ávido. Sempre ávido por mais: afinal, quem sou eu ou quem somos nós?
Criamos em questão de uma década uma atmosfera onde circulam fotos, beijos, gemidos, corpos desnudos e textos, informação científica, carros e ladroagem das piores. Assim somos nós e eu me misturo a essa ganga eletrónica, em meio a bits, gigabites e terabites de pura diversão e malandragem. Um elétron, conforme a mecànica quàntica, nunca está num só local, é impossível determinar sua posição exata; Assim falava Heisenberg, se não me engano. Assim sendo, sou mesmo um caso perdido, pois pior que este elétron, sou fóton, méson pi, quark e o que mais for possível, apenas e tão somente para deixar minha indelével marca nessa arca espacial de informação que saindo daqui um dia cruzará as fronteiras de nosso espaço conhecido.
Quando assim for, quem sabe já não será o tempo de voltar a mim mesmo, voltar ao meu tempo interior, Ã minha pausada respiração e ao meu pulso de vida imutável, na hora certa de chegar perto de você, roçar a sua mão aveludada, desligar a luz cheia de incertezas e num beijo apaixonado,juntar meus sonhos aos seus delírios e materializar nossa abstração e nosso amor em um segundo, num arroubo místico de densidade infinita e começar tudo assim como se dizia ao começo de todas as eras: