A reportagem é da Veja desta semana, falando do filme e livro "The Secret", "O Segredo", sucesso estrondoso que chega ao Brasil, desconcertante para os néscios que imploram uma posição da receita de jornalismo correto. A Veja fala da metáfora da Caverna de Platão sem perceber que é ela mesma quem a vivencia e, assim, justifica a atualidade da alegoria. A Veja acha que tudo que há fora da caverna, ou seja, fora dos tratamentos convencionais (termo usado na matéria "Feitos para Crer", abril de 2007) é falso, esoterismo barato. Vive, pois, na caverna do jornalismo conservador, despótico e arrogante e, portanto, só recebe a luz da caverna, ou seja, as sombras. E são essas sombras que são expressas de forma contundentes na reportagem de Lizia Bydlowski. Lizia, como na metáfora, "mata" o jovem que ousou sair da caverna, descobriu um segredo maravilhoso lá fora e volta radiante para contar a novidade para seu povo, pensando em libertá-lo. Esse jovem, hoje, multiplicou-se por mais de 12 mil, somente numa comunidade orkutiana. Convém, para o bem dos "certinhos" e que seguem as leis eternas e perfeitas, que se deixe muito claro quem está do lado sério da realidade: eles! Se não, como fazer com o pavor de ver alastrada a idéia maluca de ser senhor de si mesmo, de seu destino? Isso só pode ser coisa do demo, diriam eles... A arma a ser usada aqui? A desqualificação! A quem iriam vender as idéias pré-moldadas da face mais podre da elite falida doravante se todos entrarem nessa onda maluca? Não foi por isso mesmo que detonaram o "What the bleep"? Afinal, quem entraria na prelazia do "Opus Dei" ou quem votaria em seus correligionários se "What the bleep" e "The DaVinci Code" tivessem algo de verdadeiro? Esse é o segredo da Veja. Se para a Veja e seus jornalistas vassalos, a realidade ainda é única e o maniqueísmo deve perdurar no século XXI, sendo eles os defensores do bem, é natural que envidem todos esses esforços nesta cruzada contra o mal, o lado charlatão da ciência que está ganhando mais terreno do que poderia, já causando incómodos irreversíveis. Como para eles a ciência clássica é que conta, talvez ainda achem que os estragos feitos até agora sejam reversíveis, como as leis da Física Clássica. Se lessem Prigogine veriam que não mais... É o retorno velado da Inquisição que a Veja traz à tona. A Veja faz o papel da Igreja, como o faz também a parcela majoritária da academia que ainda se julga acima do bem e do mal. Pela frase, poderiam ler Nitzche, que lhes faria bem, ou Spinoza ou ainda Bergson, mas a lógica de Aristóteles lhes é suficiente. Interessante que eles podem falar abertamente de "charlatanismo quàntico". Que coisa, hein? Será que a Veja entende de Física Quàntica? Quem deles é expert no assunto? Fizeram curso aonde, já que são tão corretos na exigência? Seria melhor dizer que a Física Quàntica explica a postura da Veja, já que quem não troca seus óculos mecanicistas e cartesianos não tem a mínima chance de entender os estranhos fenómenos da Física Quàntica. Não foram poucos físicos que disseram algo nessa linha após o advento das incertezas quànticas. Com esses óculos arcaicos, a Veja jamais irá entender a questão da superposição de estados do Gato de Schrodinger. Para eles ainda vale a lógica do ou/ou e a quadra quàntica será sempre uma balela... Abusos ocorrem com aqueles que usam a Física Quàntica sem conhecimento suficiente? Com certeza, mas ocorrem em todas as áreas igualmente, a começar do jornalismo...
