Ronda no semblante da criança um ar de tristeza, um pensamento distante que a torna, no meio do bando álacre e alegre, um pontinho distoante.
Olhinhos vivos, mas absortos, ela parece estar longe dos folguedos. Um delas, percebendo o alheamento, grita o nome da menina, procurando traze-la de volta para a brincadeira. Então, batendo palmas, ela sorrindo, respondeu:
- Eu vi um anjinho naquela nuvem, tão branquinho, mas o vento levou a nuvem pra longe...
Todas as outras, imediatamente, olharam para o alto, na tentativa de ver, ainda, a nuvem do anjinho, mas só viram o firmamento azul, escampo.
E vieram as perguntas sobre o anjo, despertando a imaginação do bando. Cada um tinha a sua história para contar, vestindo o anjo com trajes de cores variadas, ora de branco, de azul, de amarelo, de verde, só não imaginaram o anjo vestindo preto nem vermelho, mas de tudo o mais o anjo vestia.
E a brincadeira terminou ali mesmo, todas elas sentadas ao redor da garota que vira o anjinho na nuvem... e foram dormir bem cedo, excitadas, ansiosas, querendo acordar antes do sol, para ver se o anjo havia voltado...mas as nuvens nunca retornam com a mesma forma, caem em gotas nalgum lugar, feito chuva redentora, são como nossos sonhos, uma vez passados, perdem toda a graça, fica apenas uma frustração dorida, afivelada nas nossas lembranças, com gosto de fruta passada...