No caminho, desfolhada, uma rosa murcha, pisoteada, retratando o passado tão encantador e tão bonito, o avesso deste presente descolorido, vazio, sem sentido.
Sentia no peito um torvelinho de emoções, uma angústia sem nome, uma saudade dorida.
Caminhava a passos lentos, sem ritmo, sem vontade, mas ia sempre em frente, como se as suas derradeiras forças adivinhassem que havia algo de bom por detrás daquela paisagem desgraciosa e estranha.
Pensava nos dias idos, tentava organizar as recordações, mas havia um punhado de hiatos na cadeia de memórias, como se a vida, num dado momento, tivesse dado um salto no vácuo, deixando sem marcas os dias em que tudo aconteceu, mas aconteceu tão de repente, tão inesperadamente, que ele não conseguia arrumar as reflexões, manter o pensamento encadeado, reviver as sensações e descobrir a ponta do fio da meada.
Absorto, nem percebeu que estava trilhando o mesmo caminho de outrora, estrada saibrosa, varrida pelo vento, batida pelo sol, onde ambos haviam experimentado horas de enlevo e de felicidade.
Ouviu uma voz inconfundível chamando seu nome. Beliscou-se para ver se não estava sonhando. A voz tornou a falar o seu nome, com o mesmo carinho e com o mesmo tom inesquecível. Virou-se, era ela.