No dia 24/05/2007, Ã s 21:45h, recebo correspondência de pessoa de minha estima, que me convida para solenidade no dia 02/06/2007, Ã s 19h: posse da nova diretoria de certa entidade cultural.
A mensagem, mutandis mutandis, assim redigida (sugere que eu não falte):
"Querido amigo: o grêmio tal convida-o para a sessão de posse da sua diretoria (biênio 2007/2009). Local: Metrópole (BR). Endereço completo: no rodapé desta.
Chame todos os conhecidos para o evento.
Sua presença é indispensável."
Cancelo alguns compromissos e, mesmo sabendo que enfrentaria dificuldades para localizar o estabelecimento, proponho-me a ir. Visto o meu melhor terno, empunho alguns livros, um deles até com dizeres de uma das homenageadas, e de carro tdas homenageadas, e de carro tento transpor a barreira do tempo.
Há mais de 30km de onde resido, localidade de difícil acesso, pistas sem sinalização eficiente, escuríssimas e condutores afoitos (cada um com seu motivo para transgressões). E eu, perdido naquele transtorno de viagem, querendo chegar no horário pevisto.
Faço diversos retornos, transponho muitos viadutos, tento atalhos que levam a local mais distante, e nada de encontrar o caminho.
Já cansado e sentindo que chegaria depois do início, paro num posto e indago como poderia chegar à quele endereço. Um rapaz, atencioso, propõe-se a me ajudar. Entretanto, muitos pormenores na indicação. Nada entendo ou compreendo erradamente. Assim mesmo, vou.
Quando consigo ler uma placa, que (quase por milagre!) vejo próxima de um viaduto (friso que as poucas existentes são confusas, com letras apagadas e postas em lugares impróprios), descubro que volto em vez de seguir.
Várias alternativas passam-me no cérebro. Meio desanimado, penso: retornar é o que me sobra. Contudo, reflito sobre o fato de que minha amiga disse: "A presença é imprescindível." Além do que, em resposta, confirmei que estaria presente.
Concluo depressa que deveria desistir da volta sem comparecer à festividade para a qual fui convidado.
De novo, encontro um posto de abastecimento. Ali, questiono a respeito do endereço. Desta vez, com um pedaço de papel nas mãos. Os funcionários olham-no fixamente, conversam entre si, pronunciam algo que não ouço direito e após alguns minutos dizem:
-- A pista que o levará ficou há uns 10km e por aqui não há retorno.
Solução: seguir adiante, mais uns 5 ou 6km e retornar observando as placas.
Agradeço e sigo o meu destino. Placa seria a última coisa que procuraria. Experiência desagradabilíssima recomendava-me: esqueça.
Ainda bem, estava com o celular que, por cautela, tinha bateria e créditos suficientes. Ligo para o serviço de radiotáxi mais próximo, cujo número o 102
Forneceu. Disse onde eu estava, mais ou menos, porque nem sabia direito a minha localização. A servidora, muito cortês, fez orçamento razoável e prometeu que dentro de 15 minutos, no máximo, o carro chegaria.
Tudo como prometeu. Profissional tranquilo e preparado para o trabalho. Pediu que o acompanhasse. Seguiu lento e respeitando os limites de velocidade, mostrados por indicações inadequadas. Em pouco tempo, estávamos no prédio em que ocorria o congraçamento. Pago-o e fico agradecido (o favor que ele me presta vale muito mais do que o registro económico do taxímetro). Despeço-me, estaciono o meu carro, caminho alguns metros, entro no sonhado edifício e tomo o elevador.
Surpresa: estava concluindo a apresentação do nosso hino. Auditório cheio, de tamanho reduzidíssimo, sem assentos suficientes, sem ar condicionado e luminárias adequadas. Ninguém de fora para orientar quem chegasse. Vejo um senhor de terno, bem apresentável, que me parece da organização. Pergunto-lhe onde me poderia acomodar. Aponta para uma carteira de estudante (dessas que havia nos grupos escolares antigos), a qual imediatamente uso (mero engano: era especial, talvez ele não soubesse). Não havia fita separadora que identificasse, de pleno, as autoridades). Sem muita delonga, experimento esse inconveniente e procuro outra, em que me instalo (os dizeres estavam pregados atrás e eu, na frente, não poderia ler: era também para determinada pessoa). Absorto com os discursos criativos e importantes, nem tomo conhecimento de que que a proprietária chega e permanece furiosa com a situação (imprudente): estar o seu lugar ocupado. Ao ouvir perto de mim ruídos estranhos e mais altos do que a voz dos oradores, não tenho outra saída: ofereço-a a ela, com o que, sem nenhuma cerimónia, concorda: estava certa, era seu aquele receptáculo. Eu, sim, intruso.
A festa prossegue. Discursos e mais discursos. Lembro-me de um deles que até me elogia, por respaldo, já que o eloquente professor nem sabe quem é este humilde convidado.
Saio com cautela para não chamar atenção. Na porta, encontro moça elegante e bonita, que me alegra com um cumprimento e diz que foi minha aluna, há décadas, na universidade. Acho ótimo revê-la e poder conversar com alguém um pouco. Dediquei-lhe dois livros: "Magia" e "Pélago". Igualmente, o fiz para a diretora e para o presidente recém-empossado (para este "Saldunes" e "Reminiscências", quiçá algum dia entenda o motivo do título. Solicito-lhe a fineza de os entregar e transmitir-lhes o meu pedido de desculpas porque tinha outro compromisso.
O retorno, mais calmo (havia perguntado ao meu guia a estrada mais segura para regresso), permitiu-me rascunhar, ainda que na memória, esta crónica. No trajeto, ouço música suave e rememoro tudo o que ocorreu: um vexame.
De volta, no meu apartamento, os familiares (ainda não tinham dormido!) quiseram saber com foi. Narro-lhes, sinteticamente, o episódio. E, assustados, após escutar atentamente (empenhei-me muito com eles para levá-los comigo, mas não quiseram! parece que adivinhavam), solidários a mim, murmuraram:
-- Que pena! Na vida, é assim mesmo. Mais vale a sua intenção. Pelo menos tentou demonstrar o quanto lhe era grato o convite.
Realmente, aprendo mais um pouco. Por amigos, se faz o possível. Jamais o impossível.