"Não poderia deixar de comentar, senhores, sobre a situação de nosso país; uma lástima, senhores, uma lástima.
Meu plano de governo previa controle das endemias mas as pragas se multiplicaram e mais de um milhão de ratos invadiu nossa cidade maravilhosa. Pior para os banhistas que se viram obrigados a dividir as areias fétidas do Leblon com os pequeninos roedores, ávidos por quitutes de todos os tipos. As endemias então! Um exército de barrigudinhos vive nas ruas de Salvador; Vivem de vender pastéis contaminados pelas águas podres dos açudes em que tomam banhos repletos de caramujos, docemente apelidados de bibelós! Bibelós senhores! Onde vamos parar?
Também era meu plano distribuir a renda entre os estados, mas há estados e Estados, de modo que a renda se dividiu somente a si mesma, metade para alguém, outra para outrem e...Vergonha, senhores!
Era intenção nossa alfabetizar boa parte destes iletrados habitantes de nosso rincão natal; qual o quê, nós não gostamos de ler, como assim não o fazemos não sabemos criticar, se não criticamos não atuamos, se não atuamos mal sabemos votar e quando votamos, dá nisto que deu! Ora bolas, senhores, ora bolas!
Um projeto de ouro de meu mandato era fazer as famílias de baixa renda se nutrirem mais, mas o leite azedou e a farinha foi para o saco, de modo que sobrou o arroz que os ratos levaram da praia: Quando isto vai parar senhores, quando, eu pergunto?
Não poderia deixar de lastimar a qualidade do ar que nós respiramos: Sorte a nossa de termos as máscaras barateadas pela indústria internacional! Tornamo-nos o país que mais importa as máscaras provenientes do extinto país asiático, se não me falha a memória por extensa poluição radioativa; pelo menos não precisamos procurar as nossas no escuro(elas brilham).
Parafraseando Monteiro Lobato, o mal de nosso país são as saúvas, não os graúdos, essas desgraçadas que comem mais da metade de nossas colheitas de tão grandes que se assemelham a cachorros médios-hoje uma saborosa iguaria de nosso cardápio. Saudades de antanho, senhores! Saudades!
Quero aqui colocar um ponto final nos temores de nossa classe política: Não, não fecharei o Congresso, não, jamais faria isso, sou um democrata e essas veleidades ditatoriais eu as deixo à s vivandeiras !! Somos um país continental, é claro, um pouco menores depois que cedemos os rios do Norte à iniciativa internacional, mas pensem bem senhores, pensem como progredimos desde então, não é verdade? Que se cale o que ousa dizer o contrário!
Nosso ouro é o mais puro, senhores, disso tenham a certeza, nossa vida tem mais amores, mas devemos atentar para o nosso futuro! Devemos atentar para a frente, sempre olhando o horizonte que se delineia para nossa pátria infinda...""ilegível..."
