No início desta semana, entrou um ladrão em minha garagem. Aproveitando-se do barulho do ar condicionado e da falta de minha cadela, Rose, que se foi, entrou saltando o muro.
E o infeliz teve um trabalho enorme para pular o portão, muito alto e de grades pontiagudas.
Costumo deixar sempre o carro aberto, o que me rende uma bronca matinal e rotineira de meu marido. Devido a esses sermões, no domingo, fechei o carro, antes de trancar as portas de casa. Atitude correta, em hora errada.
O gatuno era desses que só entram na garagem para roubar os rádios dos carros.
Não vendo a facilidade do carro aberto, arrombou-lhe a fechadura, o que me rendeu prejuízo maior do que o próprio rádio-CD que ele levou.
Eu nunca havia sentido a falta de minha cadelinha, no sentido de "protetora" da casa. Considerava-a como filha; talvez um elemento a mais na família. Tinha dez anos e já fazia parte de nosso dia-a-dia.
Pensei, então, com essa invasão de minha casa, como eram fortes aqueles latidos. Ai, de quem se atrevesse a encostar os dedos no portão. Ela dava pulos de fazer estremecer qualquer incauto.
Raça pastor-alemão, pelo avermelhado e brilhoso, uns olhos que pareciam atestar a ternura agradecida por estar ali, desde o seu primeiro mês de vida. Acolhida com todo o carinho que um animal pode desejar...
Brincalhona, faceira, divertida... Não havia gesto nosso que lhe escapasse. Estava sempre atenta.
Nos finais-de-semana, ao ver-nos todos em casa, não cabia em si de tamanha alegria. Notava-se isso no brilho dos olhos e na cara contente. Sempre a saltitar, dócil, gentil, sorridente... Ah! Como ela apreciava nossos churrascos de quintal, em volta da piscina. Eu deixava-a solta e ela ficava feliz e comportada, como se entendesse que se não fizesse assim, perderia aquele privilégio.
Só faltava falar. Mas entendia-se mais que a um ser humano.
Era envolvente e querida a nossa amada Rose.
Milene Arder
Produção 2001
PS. Creio que somente escrevi sobre o assalto, para falar da Rose e matar um pouco as saudades.
A crónica acima nada tem de ficção.
Aguardo o nascimento de outra cadela, da mesma raça, daqui a duas semanas. Vou chamá-la de Bia, meu nick poético da Internet.