Era 2004, junho, sábado, frio. Pouco movimento nas ruas.
Sol brilhante, mas leve... não dava para se aquecer ao caminhar
alguns quilómetros debaixo dele.
À procura de lugar tranquilo para almoçar, percorri lugares
já conhecidos e que poderiam ajudar-me na escolha de restaurante,
que encontro sem muita dificuldade. Recanto bonito, com
móveis recém-pintados, indicativos para fumantes, não-fumantes
e música suave; sem dúvida, era ali que eu desejava permanecer
algum tempo.
Pedi o cardápio, que me pareceu razoável, e solicitei o
prato preferido: filé de frango e legumes, acompanhados de arroz.
Prazo de preparo: 20 minutos (muito tempo para quem faminto
estava).
Sentei-me à mesa, que me permitia vislumbrar o movimento
dos carros e das pessoas que, na rua, passavam descontraidamente.
Como de hábito, antes da refeição, refrigerante para amenizar
a espera, que, depois verifiquei, não foi tão grande! A comida,
quente e saborosa, a superou bastante.
Enfrente havia uma loja, que me pareceu panificadora, com
muitos produtos e consumidores entrando e saindo sem parar;
cada um trazia sacos de papel, de tamanhos vários, o que sugeria
ser pão, leite ou produtos outros.
Logo, estacionam, bem próximo duas motos bem cuidadas
e possantes. Delas, descem dois condutores: um homem e uma
mulher, aquele de uns 30 anos, alto, forte, cabelos compridos,
barbado e roupas extravagantes, esta de 20 ou 22 anos, bonita,
magra, clara, cabelos presos e roupas normais para a sua joviali-
dade. Observei-os e disse a mim mesmo: provavelmente, um bad
boy e sua cúmplice; vão incomodar os clientes.
Nesse ínterim, notei diversos consumidores, numa atividade
plausível, jogando, no lixo, copos de plástico usados e outros objetos
descartáveis; até uma senhora, cujo carro estava bem perto
de uma lixeira, aproveitou para depositar os resquícios de pipoca
e batata frita que certamente pequerruchos lançaram dentro do
automóvel.
Imagino: puxa! como estão melhorando! nem tudo está
perdido, ainda há gente civilizada.
O alimento, quentinho e nutritivo, chega; começo a fazer
uso dele sem pressa e aproveitando sabor e tempero.
Olho a rua e vejo os dois motoqueiros a sair da padaria,
com sacos volumosos (provavelmente de pães e refrigerantes). Noto-Ihes o comportamento.
As motos, já enfileiradas, motores ligados, e eles, usando todo o
equipamento exigido por lei, aguardavam os carros passarem.
Pensei de novo: vão sair cortando e fazendo proezas como é de
costume entre os motobóis, pseudomotociclistas, que se aventuram
num trabalho arriscado pra ganhar algo. Nada disso. Esperaram o
sinal fechar, ligaram as setas, observaram atentamente e saíram com
calma (o rapaz educadamente deixou que a moça saísse primeiro);
fizeram o retorno no balão; distante uns 300 metros.
Mais ainda: mostrando civilidade e educação, haviam
parado seus veículos de modo a não ocupar vaga dos automóveis,
puseram-nos um atrás do outro em local apropriado.
Não pude cumprimentá-Ios do outro lado da rua. Ademais,
eu estava almoçando, mas, ao longe, apreciei-Ihes a atitude louvável.
Moral da história: ainda há gente educada! Que bom!