Às vezes eu habito aquele mundo intermediário que mora perto do coração das pessoas, um terreno fugidio e estranho que tem solo movediço, solto, úmido e cheio de folhas de árvores derrubadas. Habito à s vezes um setor de sonhos, uma parcela de um universo que me compraz ficar e no entanto, no embate da vida diária(esta que nos desgasta e nos corrompe pouco a pouco), me afasto desta zona de penumbra e de fluidez para me agarrar ao palpável, ao exato, ao que deve ser.
Caminho quase sempre neste mundo vago e quieto, qual pàntano das antigas eras, pleno de sombras de árvores de idade inimaginável e nele, procuro a fonte de meu sobressalto, de meus pesadelos; nele, neste estranho aquário de idéias, busco minha água cristalina, meu alimento perpétuo. Miro em meus olhos nos lagos diáfanos que cruzo, em silencioso andar noturno.
Quase sempre eu desejo ficar e no entanto as garras do lá fora me esperam, me prendendo a compromissos, a horas de dias contínuos, a semanas de trabalho insano, ah, quanto não daria para ficar ali, no silêncio da contemplação e dos sons suaves que brotam da quietude e paz do fundo de minha alma, ah, quanto não daria...
Sou íntimo deste lugar suave, destas cores a meio tom, sou amigo das aves que evoluem em majestosos vóos à beira dos penhascos que eu escalo, sou amigo de cada inseto que pousa em minhas costas, caminho com a calma dos monges que percorrem os caminhos da Iluminação...Nos silêncios eu distingo a música de minha respiração, na mudez do céu limpo eu fito a luz de nosso caráter, eu sou íntimo destes castelos longínquos que preenchem as montanhas azuladas ao fundo dos cenários que se sucedem em ondas de pura beleza.
Este mundo me espera, compassivo; ele me aguarda com a paciência de eras, me aguarda com os relógios de sol e as clepsidras que medem o indizível, com os espelhos nas paredes de fontes estranhas, este companheiro me aguarda enquanto caminho neste outro estado de ser, neste outro Universo sem segredos, de exatas medidas e de pouca vertigem, o que nos sonha e o que nos imagina, como somos instados a pensar que somos.