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Cronicas-->SE SERVIR DE ESTíMULO, VALEU A PENA ESCREVER -- 11/11/2007 - 07:35 (Anselmo Cordeiro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Trata-se de uma obviedade ululante, mas nunca é demais repetir: para um bom domínio do vernáculo, não basta apenas o curso de Letras; é preciso muito mais, principalmente amor ao idioma pátrio. Muitos amam escrever, mas poucos têm ànimo ou motivação para penetrar nas profundezas da Gramática. Conheço gente que vive a escrever na Internet, mas é incapaz de ler um livro qualquer de ficção. Lêem jornais, revistas, alguns poemas e textos curtos que recebem pelo correio virtual, e, por conta desse restrito universo de leitura, acabam usando, no que escrevem, a linguagem simplória do dia-a-dia. Quando, um dia, precisam escrever coisa mais bem elaborada, empacam logo no primeiro parágrafo. Se, pelo menos, tivessem o bom hábito da leitura, o resultado poderia ser outro.

Digo isto por experiência própria, vez que eu era um desses; até que que, um dia, decidi que devia enfrentar o desafio da Gramática, e essa decisão teve uma causa: as críticas que eu recebia de um professor de Português, que, a meu pedido, lia os ensaios que eu escrevia. Para ser mais preciso, eu diria que a forma como ela fazia as críticas é que desencadeou em mim aquela decisão. O homem fazia um salseiro medonho de gracejos em cima dos meus erros. Na época, eu servia numa unidade de ensino da Marinha como instrutor de Higiene e Primeiros Socorros, e, como eu fazia parte do corpo docente, frequentava o salão dos professores do ensino propedêutico. Da convivência diária com os professores, surgiu a amizade com aquele mestre e, da amizade, veio a liberdade de ele zoar com os meus escritos. Para piorar, as brincadeiras eram feitas na presença dos poucos professores que aproveitavam tempo vago para ir àquele salão; e eram poucos, porque eu buscava os seus comentários quando a sala estava meio vazia. Mas aqueles poucos pareciam, aos meus olhos, a platéia de um Fla-Flu. Claro que a caçoada incomodava, mas eu arrumava, sei lá Deus onde, espírito esportivo para encarar as suas brincadeiras, sem revelar sinal algum de melindre ou mágoa, e, por aí, eu ia extraindo dele o máximo de conhecimentos que podia. O sacrifício que eu fazia para encarar numa boa as suas gracinhas era o preço que eu pagava pela aulas.

Até que, numa bela tarde - e eu diria belíssima tarde, porque foi ali que surgiu a alavanca que me levou à universidade - ao final de mais um circo em cima de um texto meu, ele, removendo do rosto o sorriso sacana, disse-me: "escute: você tem talento e persistência, mas falta-lhe conhecimento. Por que não tenta um curso de Letras?"

Fiz o curso, mas, a seis meses do final, tranquei a matrícula, porque eu não via sentido algum em percorrer a disciplina de Pedagogia, a última do curso, se eu não tinha intenção ou motivação alguma para atuar no magistério, ensinando o segundo mais difícil idioma do mundo, remunerado com esse salário de fome que pagam aos professores. Ademais, indo para a reserva da Marinha, ainda que como Suboficial, não ganharia tão mal. Isso era o que eu pensava, e hoje vejo que me enganei; mas não podia prever que o Pais ia acabar caindo nas mão de uma quadrilha, que, sabe-se lá Deus o porquê, decidiu colocar a segurança da Nação em terceiro plano. Por aí, o chefe da malta lulo-petista vai transformando os comandantes militares em santos que vivem de promessas. Promete isso, promete aquilo, mas não move uma palha para concretizar o prometido. O Exército exercita-se com sucatas; a Marinha, com metade da sua esquadra paralisada, vai virando museu naval; a Força Aérea especializa-se em transplante de peças, para manter em razoáveis condições de vóo os seus "Mirages", construídos em mil e novecentos e antigamente; a tropa, submetida a um arrocho salarial nunca visto, compromete os seus rebaixados vencimentos em empréstimos com desconto em folha... Enfim, o País vai caminhando, a passos largos, para uma situação de vulnerabilidade perigosa na sua soberania, e só não estou hoje, financeiramente, nessa mesma situação de fragilidade em que o País se encontra, porque tratei logo de arrumar alguma ocupação que pudesse reforçar o orçamento doméstico. Não sei se, como professor de Português, estaria melhor, mas aposto que estaria pior.

Hoje, quando comento sobre as obras que chegam à minha caixa postal, sou um pouco daquele professor zombeteiro, e nem preciso dizer que a minha intenção nos remédios amargos que aplico, apesar de não parecer a muitos, é a mais nobre e honesta possível.
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