A sensação de vazio me preenche, querida, e não é de agora, estamos vazios como cascas desabitadas, estamos em um nó-de-tempo, em uma esquina de alguma cidade de civilização indeterminada.
Que poderíamos fazer? Afastarmos-nos mais um do outro? Às vezes me pego falando sozinho e não é de você nem de mim; o que faremos na encruzilhada?
Preenche-me o pó de um tempo que se foi, um pó com gosto de carmim, de sal-gema, de pedras preciosas, lindas águas-marinhas e opalas iridescentes que me encheram de sonhos, mas... Qual hora?
Sinto que se esvaiu o poço de nossas virtudes, esvaiu-se nossa companhia de sonhos, os malabaristas da alegria se foram, sobraram os clowns de sempre, os de sempre, os de sempre...
Afastarmo-nos mais um do outro, podemos, já não o fizemos? Já não pertencemos a outra vibração, a outras vidas trançadas, já não estamos numa fase de faz-de-conta? Qual a nossa dúvida?
A permanência claudica, temos alguém à nossa espera, temos mais nada em comum, temos a fera do tempo a devorar nossas estradas paralelas, a permanência não é mais que a não-permanência, estamos assim há tempos, querida.
Joguemos a última moeda ao poço de nossas esquecidas virtudes.