Nos momentos em que eu olho o céu posso imaginar a grandeza de tanta luz e a delicadeza do que nos criou. Uns podem dizer, mas como, ele joga dados com o desconhecido, ele se deixa levar pelo próprio fluxo das ondas que arremetem na fúria do infinito. Quem poderia negar o que há e o que houve antes de tanta beleza e nitidez?
É nestes momentos lúcidos que ouso contemplar o que há de vácuo ou imensidão em nós mesmos e não consigo enxergar nem metade do que gostaria em mim.
Não consigo ver aonde me coloco neste mundo, não vejo o porquê de tantas e minúsculas problemáticas idéias que solapam minha (nossa) mente, não diviso o meio do Nada que nos vicia a alma em vazias tentações, mal consigo perceber que num átimo a vida passa e deixamos poucas marcas em toda a nossa existência.
É nos momentos de sofrida solidão que nos habita o demónio do querer o improvável, de tentar saber o impossível, de sub-repticiamente degustar o sabor de nosso eterno medo, bem quando desviamos os olhos da Via Láctea e olhamos para nosso umbigo abismal.
Alguns dirão, mas ele está morto, qual a necessidade de existir um louco assim, que joga os fatos na fogueira da eternidade e nos deixa à deriva num minúsculo pedaço de poeira cósmica, sem sentido e num universo insensível e morto, de mais vazios que matéria plena, eu sei, alguns dirão...
Eu agora olho para o céu e diviso o infindável, o indivisível, o inefável, o espantoso, o maravilhoso momento de agora.
Sigo em paz com minhas nuvens.
Ele está, de qualquer forma, lá adiante, a criar as infindas e ricas formas com que ornamenta as franjas além do conhecido de todos; ele está lá ou dentro de nós mesmos, num momento de ternura e silêncio criativo.