As pessoas tocam suas vidas planejadas de forma patética e previsível. Comem na hora de comer, transam na hora de transar e dormem mesmo quando sem sono. E não vêem ou percebem o relógio de cabeceira bater seus segundos em direção á sua morte. Se arrumam divinamente, botando na face uma máscara disforme para serem paqueradas na rua enquanto por dentro, seu ego desfacelado clama por uma olhadinha que seja para resconstruí-lo com argamassa de areia e cuspe. Aí estufam o peito, encolhem a barriga e andam na ponta dos dedos para depois chegar em casa e chorar sozinho debaixo da cama. As pessoas se contentam com pouco; muito pouco. Estatus, carro do ano, portão eletrónico, roupas caras que escondem sua ressecada pele enferma. E seus olhos, bolas negras de gude, olham insensatas pro nada, buscam em lugar algum merda nenhuma. Mas riem alto, falam, gesticulam mãos tolas no ar, e nada. Não sabem o que de dentro inflama, e na cama, esquecem do inesquecível. Mais ar, mais ar é o que preciso. E a cidade, feriada cáustica que jorra sangue, em faróis de carro, olhos loucos, patéticas praças vazias onde pessoas passeiam com seus cachorros solitariamente, disfarçando uma angústia trétrica, um não saber estúpido, e um querer esnobe. Burgueses, mendigos, madames, loucos, insensíveis, tudo uma somatória de carne morta e putrafata, chacoalhando seu esqueleto para ir do nada a lugar nenhum. E a vida passa, inapelavelmente...
O amor é a saída, mas ninguém sabe amar. Quando amam alguém, no fundo, estão somente tentando preencher um vazio pobre interno, egoísmo puro, tentativas de se salvar da idiotice total que é viver. Nao temos importància nenhuma pro Universo, pro Planeta Terra, pro vizinho. Nos pisoteamos para chegar a lugar nenhum. E á 1 milhão de anos luz alguma estrela silencia. E nós aquí a gritar nossos pequenos sucessos, nossas pequenas façanhas de merda.
Nunca se esqueça que quando o amor entra pela porta, sua inteligência salta pela janela.