Ascendi um cigarro, olhei de lado, gole de café - fraco - apenas pensei. Sentia cada gole da noite anterior se evadindo por cada poro de meu corpo. Culpa, não sei do que. Angustia, não sei de que. Ternura, também, mas isso eu sei por quê. E a vida se esvaindo, inapelável, tic tac ininterrupto, seguindo seu curso. Sentimentos rápidos e absurdos, logo calmaria, distante do mundo, distante de tudo que respira, sente, pensa, rodeado de coisas inanimadas; apenas plásticos, vidros, madeiras, concreto e céu espesso. Solidão, talvez seja essa palavra que resuma minha sensação. Onde estarão? Onde estará? Silêncio, é o silêncio que sempre se instaura. Nesses momentos fico mais perto de Deus, vazio, só eu e Deus. Ele não fala comigo, nem eu com Ele. O silêncio no meio, muro instransponível, metafísico, sutil, inútil. O que transcende minha alma nunca é algo abstrato. É sempre o simples; o sorriso, o afago, o deleite do gosto, que eleva, ah, sempre e somente com ela. Queria saber descrever, mas me resta apenas sentir, silenciosamente.