Sou de berço,
de manuseio popular,
armado em frente à pracinha
colorida,
cheia de presépios
e armaduras de doces.
Sou de berço,
bem nascido
e sou sempre
bem embalado.
Pelos cristãos ou árabes,
sou dispositivo de carinho
e, por nenhum vintém,
ninguém me ousa vender.
Sou de berço,
tenho almofadas,
carimbados de borracha
e roupas felizes.
Sou de berço
bem criado,
espelho dos avós,
amante dos pais,
dispostos à visitas
de parentes e amigos.
Sou bem regulado
e ali vou crescer
angulado
de fantasias e mergulhado
em sonhos de anjos,
onde uma linha invisível
me divide
do mundo e a
a calibragem dos maledicentes.
Sou de berço,
mas agora,
bem crescido
só visito outros,
que também possuem
berços.
Faço carinho e corto
de amor sua paisagem.
Mas eu, crescido feito horto,
olho prá trás e pergunto:
Cadê meu berço?
Deus -
num dia de linha d água
e muito talvez de mau humor -
quis que eu não o tivesse.
Tivesse sim, missão muito simples:
só embalar o dos outros.
Pobre, minha mulher,
que morre de sonhos!
Sem berços próprios!